Ouvi muitas vezes de dirigentes de associações e sindicatos empresariais de diversos setores a célebre frase: “entidade de classe não tem que ter dinheiro; quem tem que ter são os seus sócios”. Traduzindo: o caixa da organização deve ser suficiente para as despesas correntes e serviços já previstos em orçamento. No caso de situações importantes e inesperadas, os associados rateiam entre si e aportam o valor necessário. Em resumo: basta “passar o chapéu” e tudo se resolve.
Até entendo esse posicionamento. Mas discordo. Penso que é preciso ter os recursos necessários para fazer frente não só ao dia-a-dia, mas também a despesas maiores e inesperadas, como é inevitável que aconteça na vida associativa, sem que o associado tenha que contribuir com nada além da sua contribuição regular. Em todas as entidades que presidi, ABTF, ABTI e o SETCESP, que é o maior sindicato empresarial do setor de transporte de cargas do Brasil, usei o mesmo método de administração financeiro. Como se fosse uma das minhas empresas.
Quando fui convidado por José Hélio Fernandes para assumir a direção financeira da NTC, cargo que já tinha exercido no passado, apresentei uma proposta de trabalho que ia exatamente nessa direção. Ele abraçou o projeto imediatamente e possibilitou que pudesse implementá-lo sem desvios, somente com as correções de rumo inevitáveis.
Ao assumir o meu cargo, fiz duas constatações: a associação era enxuta e foi muito bem administrada pela gestão anterior. Mas existia um outro ângulo a ser observado e que precisava ser aperfeiçoado, não por culpa de ninguém mas pelas circunstâncias: ela era muito dependente de recursos externos, em geral provenientes de patrocínios. Esses recursos são importantes como complemento, mas o ideal é que sejam direcionados para investimentos em serviços e ações que beneficiem o associado e o próprio setor.
Nunca esperei que fosse tarefa fácil, como de fato não foi. Tivemos que fazer um trabalho de otimização do quadro funcional, redistribuição de algumas tarefas e concentração de outras, extinção de atividades irrelevantes e terceirização do que fosse possível terceirizar. Conseguiu-se fazer isso com pouquíssimas demissões pontuais e sem eliminar nada que fosse essencial. Foi um trabalho intenso, mas o resultado compensou.
Isto tudo é muito bom, positivo, mas faço questão deixar claro que esse não foi trabalho de um homem só. Embora estivesse encarregado de coordenar o programa, o sucesso só foi obtido com o respaldo, o apoio e o comprometimento do presidente José Hélio, de todos os diretores e integrantes dos Conselhos Fiscal e Superior.
Esta diretoria entregará para nova uma associação ainda mais saudável, mais forte e financeiramente independente de modo a que consiga trabalhar confortavelmente.
Sem demérito para qualquer outro caminho ou filosofia administrativa, acredito firmemente que entidades fortes, capazes de trazer retorno direto ou indireto a seus sócios e para seus respectivos setores são aquelas que contam com recursos necessários para cumprir dignamente com sua missão. E isto requer administração impecável e recursos.
Francisco Pelucio é empresário e Diretor Financeiro da NTC entre 2014 e 2019.