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Redução de Custos e Sustentabilidade

O transporte de cargas desempenha um papel fundamental nas cadeias de suprimento globais, conectando empresas e consumidores em todo o mundo. A flexibilidade e a acessibilidade das estradas permitem a movimentação eficiente de mercadorias, garantindo o abastecimento de produtos essenciais em diversos setores. No entanto, a importância desse meio de transporte também traz consigo desafios significativos em termos de sustentabilidade. O setor é responsável por uma parcela significativa das emissões de carbono globais, devido ao uso predominante de combustíveis fósseis.1 A busca por soluções sustentáveis no transporte rodoviário é essencial para garantir que as cadeias de suprimento globais continuem a funcionar de forma eficiente, ao mesmo tempo em que minimizam seu impacto negativo no meio ambiente.

Os caminhões e veículos pesados movidos a combustíveis fósseis, como o diesel, são uma fonte significativa de emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global e as mudanças climáticas. Além disso, a construção e manutenção de estradas frequentemente levam à fragmentação de habitats naturais, ameaçando a biodiversidade e causando problemas como o escoamento de poluentes para corpos d'água. A mitigação desses impactos ambientais é uma preocupação crítica para a promoção da sustentabilidade no transporte.

As medidas de promoção da sustentabilidade no transporte passam por três abordagens: melhoria da eficiência energética, substituição da matriz energética e compensação no mercado de carbono. Na primeira temos o uso de ferramentas e tecnologias que aprimorem o uso dos recursos já existentes de forma mais eficiente, com redução de custos. Na segunda, os combustíveis fósseis, que hoje perfazem a vasta maioria dos recursos energéticos utilizados, passam a ser substituídos por fontes renováveis. Por último, o mercado de carbono oferece uma alternativa para mitigação do impacto que não puder ser evitado.

Infelizmente a transição para fontes renováveis ainda precisa avançar obstáculos que permitam a redução do custo e a produção em larga escala de veículos. O mercado de carbono, por sua vez, apesar de contar com iniciativas privadas de padronização, ainda carece de regulamentação legal, ficando sob a sombra do greenwashing.2 Resta, assim, o uso das ferramentas já existentes com o objetivo de melhorar a eficiência energética das operações de transporte.

O treinamento de motoristas para direção econômica desempenha um papel crucial na busca pela eficiência e sustentabilidade no transporte rodoviário. Os motoristas são instruídos a adotar práticas como aceleração suave, frenagem gradual, manutenção adequada dos veículos e a escolha de rotas mais eficientes. Além de contribuir para a economia de combustível, o treinamento em direção econômica também promove a segurança nas estradas, uma vez que motoristas treinados tendem a adotar comportamentos mais previsíveis e responsáveis. Portanto, investir em treinamento de motoristas para direção econômica não apenas beneficia as empresas de transporte em termos financeiros, mas também representa um passo importante em direção a um transporte rodoviário mais sustentável e seguro.

Além do treinamento, sistemas avançados, como o controle de cruzeiro adaptativo e o assistente de frenagem, ajudam os motoristas a manter velocidades consistentes e a evitar frenagens e acelerações bruscas, resultando em um uso mais eficiente do combustível. Além disso, sistemas de monitoramento de pressão dos pneus garantem que os veículos estejam sempre com os pneus adequadamente inflados, reduzindo o atrito e o consumo de combustível.

O uso estratégico de veículos com maior capacidade de carga representa uma ferramenta eficaz na busca por uma cadeia de suprimentos mais sustentável e na mitigação do impacto ambiental do transporte de mercadorias. Esses veículos, como bitrens e rodotrens, permitem transportar uma quantidade maior de mercadorias em uma única viagem, o que reduz a necessidade de múltiplos deslocamentos e, consequentemente, diminui as emissões associadas ao transporte.3 Além disso, a eficiência energética geralmente melhora quando se transporta uma maior quantidade de carga, já que o consumo de combustível por unidade de carga diminui. Isso não apenas contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, mas também resulta em custos operacionais mais baixos para as empresas de transporte.

A substituição de veículos mais antigos por modelos certificados com a norma EURO 6 é de extrema importância para melhorar a qualidade do ar e reduzir o impacto ambiental do transporte rodoviário. Os veículos certificados com a norma EURO 6 adotam tecnologias avançadas de controle de emissões, como sistemas de tratamento de gases de escape, filtros de partículas e catalisadores mais eficientes. Isso resulta em significativas reduções nas emissões de poluentes nocivos, como óxidos de nitrogênio (NOx) e partículas finas, que são prejudiciais à saúde humana e contribuem para a poluição do ar e as mudanças climáticas.
Na busca por um transporte rodoviário mais eficiente, sustentável e responsável, é inegável que a adoção de tecnologias avançadas, a promoção de práticas de direção econômica e a substituição de veículos por modelos mais modernos desempenham um papel fundamental. Além disso, todas as tecnologias e ferramentas mencionadas já estão disponíveis no mercado, e implicam em ganhos financeiros para as transportadoras com a redução dos custos operacionais.

Essas medidas não apenas ajudam a reduzir os custos para as empresas de transporte, mas também têm um impacto significativo na redução das emissões de gases poluentes, contribuindo para a melhoria da qualidade do ar e a mitigação das mudanças climáticas. Além disso, elas aumentam a segurança nas estradas e promovem um uso mais responsável dos recursos naturais. Portanto, à medida que continuamos a enfrentar desafios ambientais e logísticos no transporte de cargas, investir em tecnologias e práticas que priorizem a eficiência e a sustentabilidade é essencial para construir um futuro mais limpo, seguro e eficaz no setor.

1 BRITO, Débora. Efeito estufa: transporte responde por 25% das emissões globais. [S. l.], 11 dez. 2018. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-12/efeito-estufa-transporte- responde-por-25-das-emissoes-globais. Acesso em: 19 set. 2023.
2 JÚNIOR, Sergio Teixeira. Novo padrão tenta frear greenwashing com créditos de carbono. [S. l.],
28 jun. 2023. Disponível em: https://capitalreset.uol.com.br/carbono/novo-padrao-tenta-frear- greenwashing-com-creditos-de-carbono/. Acesso em: 18 set. 2023.
3 PIMENTA, Érico. Europa começa a testar bitrem e rodotrem em prol do meio ambiente. [S. l.], 30 mar. 2023. Disponível em: https://autopapo.uol.com.br/noticia/europa-bitrem/. Acesso em: 20 set. 2023.

Por: Guilherme Cesca Salvan – COMJOVEM Região Sul de SC

Inteligências Artificiais: possíveis impactos nos negócios e no transporte de cargas

A automatização de processos, buscando sempre uma maior agilidade, proporcionou a evolução de diversas tecnologias que revolucionaram a história. As revoluções industriais nos trouxeram o surgimento da mecanização, a industrialização e o desenvolvimento da informática para a automação das indústrias.
Dando sequência nesta busca constante de aumentar a agilidade de processos, a Inteligência Artificial (IA) começou a ser desenvolvida e virou a “buzzword”, a palavra da moda, nos mercados.
Apesar de a primeira imagem que as pessoas têm sobre IA serem robôs humanoides com capacidade de aprender, perceber e agir como uma pessoa, o termo se tornou um genérico para aplicações que executam tarefas complexas que antes exigiam interação humana, como se comunicar com clientes online, jogar xadrez, assistentes virtuais e direção veicular assistida.
Atualmente, o nível de IA que vemos disponível no mercado é a Inteligência Artificial Limitada, tem por objetivo a realização de atividades programadas, e são divididas em:
a. Maquinas Reativas: Que não tem a capacidade de criar memórias. Elas analisam apenas quais são as possibilidades e regras para agir dentro de um cenário e procuram qual a melhor decisão a ser tomada para chegar em um objetivo. Para referência é a IA que derrotou Garry Kasparov em uma partida de xadrez em 1997.
b. Máquinas com Memória Limitada: Elas guardam algumas informações para a tomada de decisão, por exemplo, os carros autônomos que guardam a posição e velocidade do carro da frente, as faixas e placas que o veículo passou, para envio de notificação ao motorista ou dirigir o próprio veículo, assistentes virtuais como Siri e Alexa ou os serviços de indicação dos streamings (“Músicas/filmes que você pode gostar”)
Apesar de já existirem no mercado soluções na utilização de IA para empresas, como o Watson da IBM e a Carol da TOTVS, nos últimos meses foram liberados acessos a plataformas como o ChatGPT e Bard para a grande população experimentar um pouco de como estas podem impactar o trabalho das pessoas.
A popularização do ChatGPT acabou se apresentando como o uso da solução poderia facilitar o trabalho das pessoas, com auxílios que vão desde como escrever fórmulas para planilhas até bases para projetos estratégicos e ideias de captação, baseando suas respostas nas informações disponíveis na internet, e levando em consideração os detalhes colocados na pergunta.
Trazendo para a realidade do TRC
Hoje o Transporte de Cargas (TRC) apresenta uma grande demanda para a análise de informações em tempo real que precisam ser parametrizadas e correlacionadas para chegarmos as respostas. Rentabilidade, fluxos operacionais, tempo de descanso, gerenciamento de risco, controle de temperatura da carga, câmeras, controle de telemetria, adequação de carga em relação a veículo/motorista/tempo/jornada, legislações em constante mudança e até mesmo ciclo menstrual em viagens internacionais (como foi apresentado por Danilo Guedes no
lançamento da terceira edição do livro “Insights que Transformam: Como o Transporte de Cargas Vem se Reinventando”) são algumas das coisas que as empresas precisam monitorar, e cada vez com menos profissionais a disposição.
Em um cenário em que a IA está analisando estes cenários em tempo real, com objetivos e procedimentos pré-determinados, podemos esperar uma melhora na qualidade de vida para os gestores, deixando a avaliação “fria” para a máquina, enquanto os gestores podem focar nas relações humanas. Uma pergunta como “Qual veículo é mais rentável eu direcionar para uma operação, levando-se em consideração a lei do motorista, o retorno que espero do veículo, a distância que ele está e o prazo de carga e descarga?”, poderia ser respondida em pouco tempo, para diversas operações. Lembrando que, quanto maior o número de informações disponíveis para a IA embasar a decisão, melhor será a mesma, e gerando um novo histórico para avaliação de resultados.
Se for de interesse, não apenas em resultados frios e números, a evolução dos chat bots e secretárias virtuais poderia entrar em contato com funcionários afastados para conferir como está sua recuperação; verificar como foi a noite de sono do mesmo; enviar lembretes referentes a exames periódicos e já agendá-los; ou até mesmo lembrar o funcionário que está em viagem, que será aniversário do cônjuge, baseados nas informações que a empresa já tem sobre o colaborador.
Quais os desafios para a aplicabilidade nas empresas?
Se forem desconsideradas as questões de valores de investimento, provavelmente os maiores desafios para a implementação de tecnologias como essa, é a origem dos dados. Como a Inteligência Artificial necessita de uma base de informações para a sua tomada de decisões, lançamentos de dados incorretos (como uma placa, quilometragem, dados de manutenção e cadastro) podem afetar todo o processo de tomada de decisão.
A questão cultural de os usuários do produto desenvolverem a confiança no uso da mesma, e aceitarem uma decisão diferente da que tomaria, também é algo que terá um tempo para se tornar “orgânico” no dia a dia; até mesmo de as pessoas entenderem que o produto está ali para muitas vezes aliviar o excesso de esforço e podendo focar em outros projetos.
A Inteligência Artificial já está em nossa realidade, e em nosso cotidiano. O que podemos decidir é: quando nós iremos utilizar as soluções que ela traz para nossas operações, e não apenas nas operações dos outros.

Por: Franco Scarabelot Gonçalves – COMJOVEM Sul de Santa Catarina

Transporte e a Gestão Ágil

A gestão ágil (agile management) e o uso de métodos ágeis para gestão de projetos tem sua origem bem documentada no ano de 2001, quando foi publicado o “Manifesto para Desenvolvimento Ágil de Software”. O documento foi fruto de uma reunião entre pensadores independentes voltados ao desenvolvimento de software. Os princípios contidos no documento foram formulados com o objetivo de tornar os processos de desenvolvimento de software menos pesados e menos voltados à documentação.1

De forma sintética, o desenvolvimento ágil de software quebra o processo de desenvolvimento em pequenos incrementos (iterações), de curto espaço de tempo.

Ao final de cada iteração, o objetivo é ter um produto em estado que possa ser entregue ao usuário, livre de grandes problemas, mesmo que no fim das contas esse produto acabe não sendo disponibilizado imediatamente.2

Como o desenvolvimento ágil é descrito em princípios e ideias gerais, e não em metodologias precisas e específicas, naturalmente esses princípios passaram aos poucos a serem aplicados à gestão de processos e projetos fora do desenvolvimento de software. Dessa aplicação e da associação dos métodos ágeis ao lean management, surgiu o agile management, ou gestão ágil.

Por se fundar no desenvolvimento ágil de software, a gestão ágil também herda seus princípios, inscritos no manifesto ágil, que são doze, de forma simplificada: satisfação do cliente pela entrega contínua; mudança dos requisitos em todas as fases do processo; entregas frequentes; trabalho conjunto entre gestores e desenvolvedores; motivação dos indivíduos, com ambiente e suporte necessário e confiança no trabalho; transmissão presencial de informações; o resultado final é a medida do progresso; manutenção de ritmo constante, indefinidamente; atenção à excelência técnica e bom design; simplicidade; equipes auto-organizáveis; reflexão interna e ajuste de conduta das equipes.

Como pode ser deduzido, esses princípios, apesar de terem sido elaborados em um ambiente de desenvolvimento de software, estabelecem práticas fundamentais que tem a potência de otimizar projetos de desenvolvimento de produtos e serviços nas mais variadas atividades econômicas. O transporte de cargas (TRC) não está excluído desse rol de atividades.

No transporte rodoviário de cargas o tempo entre o “desenvolvimento” do serviço e a entrega ao cliente é medido em dias, ou mesmo em horas. Isso é ideal para a aplicação dos métodos ágeis, tendo em vista que estes foram desenvolvidos exatamente para janelas curtas de tempo, em que um produto mínimo viável (do inglês minimum viable product ou MVP) precise ser entregue ao cliente. No TRC o cliente espera entregas constantes, com iterações e melhorias a cada entrega. Por meio da aplicação dos métodos, cada operação de transporte pode se aprimorada com as melhorias desenvolvidas após a última “entrega”.

Como se vê, os princípios enunciados no Manifesto para Desenvolvimento Ágil de Software são largamente compatíveis com o transporte rodoviário de cargas, talvez com alguns ajustes. O que pode impedir sua aplicação, todavia, são as resistências culturais. Os mesmos mecanismos de gestão tradicional que prolongam o tempo de entrega dos produtos e serviços acabam por criar barreiras culturais, ou de mindset3, que impedem a implantação desses princípios.

A chave para mudança dessa forma de pensar, então, reside na alta gestão da empresa. Mudanças de cultura corporativa não podem, ou ao menos não deveriam ocorrer “de baixo para cima”. Esses movimentos devem ser iniciados e fomentados pela diretoria, que deve se tornar em um exemplo de adoção das novas práticas. Para uma adoção eficaz dos métodos ágeis, a direção precisa primeiro implantá-los em seus próprios processos decisórios e exigir o mesmo de seus subordinados imediatos. Aos poucos, com a persistência e o engajamento da equipe, sempre com o fornecimento das ferramentas de trabalho necessárias, a cultura ágil se implantará.

Por fim, resta dizer que os princípios de gestão ágil são de fato meras ferramentas, de forma que o seu uso eficaz exige intenção e aprendizado. Assim, não basta que a empresa contrate consultorias ou realize treinamentos com seus colaboradores se não houver genuíno investimento da alta gestão na adoção dos princípios introduzidos pelo Manifesto Ágil.

  1. HIGHSMITH, Jim. History: The Agile Manifesto. 2001. Disponível em: https://agilemanifesto.org/history.html. Acesso em: 25 set. 2022.
  2. TOTVS. Metodologia ágil: o que é e como implementar. 2021. Disponível em: https://www.totvs.com/blog/negocios/metodologia-agil/. Acesso em: 25 set. 2022.
  3. Forma de pensar.

Por: Guilherme Cesca Salvan – COMJOVEM Região Sul de Santa Catarina

Tendências de ESG no transporte de cargas: Quais oportunidades o transporte rodoviário de cargas pode encontrar nas práticas de Governança Ambiental, Social e Corporativa?

O transporte tem uma grande participação na logística do Brasil e quando observamos este cenário sob perspectiva ambiental, são muitos desafios. Enquanto representa cerca de 65% do carregamento no transporte de carga nacional, o modal é acompanhado por seu grande potencial de poluição e impactos na sociedade.

Somente em 2020, o setor de transportes emitiu mais de 185 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (que inclui dióxido de carbono e outros gases associados ao efeito estufa), de acordo com a Análise das emissões brasileiras de gases de efeito estufa, desenvolvida pelo SEEG, do Observatório do Clima.

Esse consumo de combustíveis fósseis nas estradas brasileiras, em especial o diesel, é influenciado pela idade da frota, falta de planejamento logístico e, inclusive, as condições de trânsito. De acordo com a CNT (Confederação Nacional do Transporte), a falta de infraestrutura nas rodovias pode aumentar em 91% os gastos de abastecimento e de reparo dos caminhões.

Não é toa, cada vez mais se discutem as aplicações de critérios de ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) no setor. Para além dos impactos ambientais e sociais, isso afeta também a reputação das empresas – e até mesmo as oportunidades de investimentos.

De acordo com a Pesquisa Global com Investidores 2021 da PwC, 79% dos investidores consideram os riscos e as oportunidades ESG um fator importante na decisão de aplicações. Ainda, 49% deles também afirmaram a intenção de desfazer o investimento se a empresa não tomasse ações para tratar as questões ESG.

O ESG no transporte de cargas

Com a forte influência do mercado, incentivos governamentais e instituições internacionais, se torna indispensável para transportadoras, embarcadores e profissionais da área incluírem os princípios de ESG em suas estratégias de negócio. Seus benefícios já podem ser observados.

Estudos apontam que medidas como a renovação e modernização da frota, utilização de sistemas de informação para rastreamento e acompanhamento da frota, e treinamento de motoristas continuam sendo as práticas mais frequente no transporte rodoviário de carga e juntas podem reduzir custos operacionais decorrentes do consumo de combustível e levar a até 30% de redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE).

De acordo com o Programa de Logística Verde Brasil, as empresas que aplicaram as Boas Práticas para o Transporte de Carga apresentaram resultados bastante significativos quanto a redução do consumo de energia e da emissão de gases de efeito estufa (GEE) sem comprometer os custos operacionais e o nível de serviço logístico, podendo ainda promover a redução de custos operacionais e impactos ambientais do transporte e movimentação de cargas, sem prejudicar a qualidade do serviço prestado.

Transição Energética no Setor de Transportes

Entre os avanços mais impactantes, temos o aumento na busca por fontes energéticas, principalmente as renováveis, para um transporte mais limpo. Mesmo sendo mais caros que os a diesel, veículos comerciais elétricos e a gás ganham espaço no Brasil e vendas mantêm tendência de alta.

Segundo dados da Anfavea, os caminhões, ônibus e furgões elétricos e a gás apresentam alta de 840% em 2022. Conforme a associação das montadoras, 602 unidades foram emplacadas de janeiro a junho deste ano, ante 64 exemplares no mesmo período de 2021. Ou seja, o resultado do primeiro semestre é 47,5% maior que o acumulado dos 12 meses do ano passado.

Gerenciamento de riscos aliado às práticas de ESG

É inevitável pensar em boas práticas de governança ambiental, social e corporativa sem considerar o gerenciamento de riscos para o transporte de cargas como um grande aliado. Ao contar estratégias de análise de riscos, medidas de prevenção de perdas e gestão de crises, as organizações protegem seus investimentos na modernização de frota, cultura de sustentabilidade e responsabilidades.

Podemos citar ainda recursos de seguro de carga, como RCTRC-C e RCF-DC, e ainda o RC Ambiental, que atuam como ferramentas para mitigar danos e reparar prejuízos, tanto para o meio ambiente, colaboradores e sociedade em geral.

Por: Fernanda Mateus – COMJOVEM Região Sul de Santa Catarina

ESG e o Fantasma do Greenwashing

O trinômio ESG, que alia práticas ambientalmente sustentáveis e socialmente responsáveis à governança corporativa, vem ganhando força exponencialmente nos últimos anos. Nos círculos majoritários, as práticas ESG têm ganhado protagonismo, sendo aceitas como o presente e o futuro dos investimentos e da governança corporativa. O termo – Environmental, social, and corporate governance – foi cunhado inicialmente para incorporar alguns dos fatores de risco associados aos investimentos, sob a ótica de que empresas que não aderem a boas práticas ESG estão mais expostas a risco no longo prazo.

Esse sistema vem gradualmente ganhando força econômica e, de acordo com informações da Morningstar reportadas pelo jornal Economist, o volume negociado em ETFs (Exchange Traded Funds) ESG já alcançava USD 2,8 trilhões no primeiro trimestre de 2022, o que é equivalente ao mercado total de criptomoedas. O jornal afirmou, porém, que, apesar da popularidade do ESG, os seus impactos nas emissões de carbono são desprezíveis e suas investidas sociais são difíceis de mensurar. Afirmou ainda, que a indústria ESG tem encontrado dificuldades em regular a si mesma.

Tentando abocanhar uma parte desse mercado trilionário, muitas empresas vêm adotando práticas escusas de divulgação de números e marketing em busca de uma aparência aderente às práticas ESG, mas sem fazer esforços reais de adequação. Essas práticas de maquiagem ambiental são chamadas de Greenwashing. De forma prática, o Greenwashing ocorre quando “uma empresa tem em um discurso ou coloca em uma embalagem de um produto que ela respeita o meio ambiente e tem práticas sustentáveis, mas, na prática, ainda agride o meio ambiente”.

O transporte, em todos os seus modais, vem recebendo cada vez mais atenção no que diz respeito às medidas de adequação aos padrões ESG. Isso acontece porque o transporte ainda é um dos grandes causadores de emissão de gases estufa, correspondendo em 2020 a 27% das emissões, a maior fatia entre todos os setores analisados. Com o aumento da pressão no setor de transporte por reduções na emissão de gases estufa, eletrificação de frotas e uso de biocombustíveis, surge também a tentação de adotar medidas mais brandas e menos custosas, mas também com impacto real reduzido ou inexistente, o Greenwashing.

Enquanto a adoção dessas ações de maquiagem ambiental possa parecer vantajosa à primeira vista, e com baixo risco, aos poucos os stakeholders vem qualificando suas análises, de modo a evitar investimentos em companhias que operam desta forma. Em um caso notório neste ano, Asoka Wöhrmann, CEO do DWS Group, a maior empresa de gestão de ativos da Alemanha, renunciou ao cargo depois de cerca de 50 policiais invadirem a sede da companhia sob denúncias de Greenwashing, que é especialmente grave no caso de empresas públicas. “O DWS negou qualquer irregularidade, mas mudou seus critérios ESG desde as revelações de Fixler. Em seu relatório anual de 2021, publicado em março de 2022, o DWS relatou apenas 115 bilhões de euros (R$ 583,3 bilhões) em ‘ativos ESG’ para 2021 –75% a menos que um ano antes, quando declarou que 459 bilhões de euros (R$ 2,3 trilhões) em ativos eram ‘integrados a ESG’”.

Felipe Donatti, da empresa de auditorias Deloitte, afirma que “o aumento nas denúncias de casos de greenwashing mostra como ter essa percepção de negócio sustentável se tornou importante para as empresas. No final das contas, os maiores prejudicados por essas práticas são exatamente aqueles que a praticam”. No entanto, destaca que é preciso diferenciar as empresas que estão desinformando daquelas que ainda estão aprendendo a divulgar seus dados.

Por fim, a melhor forma de combater o Greenwashing no transporte e em outros setores é promover a transparência. As empresas devem divulgar seus dados de impacto socioambiental com clareza, de modo a incentivar outros atores do segmento a fazerem o mesmo. Maquiar essas informações pode parecer simples, mas invariavelmente compromete a viabilidade do negócio no longo prazo.

THE ECONOMIST (London). A broken system needs urgent repairs. 2022. Disponível em: https://www.economist.com/special-report/2022/07/21/a-broken-system-needs-urgent-repairs. Acesso em: 13 set. 2022.

CNN BRASIL (São Paulo). Greenwashing: o que é e como identificar a prática da falsa sustentabilidade. 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/greenwashing-o-que[1]e-e-como-identificar-a-pratica-da-falsa-sustentabilidade/. Acesso em: 18 set. 2022

EPA. Sources of Greenhouse Gas Emissions. 2022. Disponível em: https://www.epa.gov/ghgemissions/sources-greenhouse-gas-emissions. Acesso em: 18 set. 2022

FOLHA DE S. PAULO (Hong Kong e Frankfurt). CEO de gestora do Deutsche Bank renuncia após operação policial contra greenwashing. 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/06/ceo-de-gestora-do-deutsche-bank-renuncia-apos[1]operacao-policial-contra-greenwashing.shtml. Acesso em: 18 set. 2022.

Por: Guilherme Cesca Salvan – COMJOVEM Região Sul de Santa Catarina

Os Vazamentos de Dados na Realidade do Transportador

No mundo orientado a dados que vem se tornando realidade nos últimos anos, os vazamentos de dados, os data leaks, já se tornaram rotina. Considerando o relato do Tecnoblog de que o CPF de mais de 220 milhões de brasileiros vazaram1, entre vivos e falecidos, pode ser dito com segurança que é mais fácil encontrar um brasileiro com dados vazados, do que o contrário. No meio dessa tempestade, todos os setores da economia lutam para se adaptar às diretivas da Lei 13.709/2018, a LGPD, dentre eles o Transporte de Cargas.
A entrada em vigor da nova Lei Geral de Proteção de Dados, a LGPD, trouxe muito mais perguntas do que respostas. Precedentes judiciais sobre a temática ainda são esparsos e não trazem segurança jurídica para o jurisdicionado. Simultaneamente, o cenário fitossanitário trazido pela pandemia de COVID-19 acelerou uma série de mudanças que promoveram a digitalização de serviços, com destaque para o transporte de mercadorias.
Com o aumento exponencial do e-commerce, que registrou em agosto de 2021 uma alta de 22,05% em relação ao ano anterior2, cresceu também a exigência de transporte para atender à demanda. Esse crescimento no comércio eletrônico traz consigo uma onda gigantesca de dados pessoais que passa a circular entre consumidores, comerciantes e transportadores.
Apesar de raramente contratarem o transporte de cargas diretamente, os dados dos consumidores acabam nas mãos do transportador por intermédio de comerciantes e varejistas. Dados de identificação, além de informações como endereço e contato, são entregues ao transportador para tornar possível o processo de entrega da mercadoria, e para otimizá-lo. Essas informações, mesmo não tendo sido obtidas diretamente do titular,
precisam ser tratadas com a mesma cautela, à luz da LGPD.
Além das informações dos consumidores, dois grupos fundamentais de titulares de dados se dão presentes nas operações de transporte: os empregados e os terceirizados.
Os empregados e terceirizados fornecem uma série de informações exigidas pela legislação laboral ou pertinentes à execução do contrato. Em alguns casos, como o de motoristas, podem ainda ser tratados dados altamente sensíveis, como localização em tempo real, por meio de rastreadores, e resultados de exames toxicológicos.

Com todos esses dados em mãos, os quais são indispensáveis à operacionalização do transporte de cargas, resta ao transportador apenas a adequação de seus processos para melhor proteger os titulares das informações armazenadas. Na ocasião do vazamento desses dados – o data leak, se demonstrada a causalidade, o controlador e o operador podem ser severamente punidos.
Para evitar essas punições, o transportador precisa buscar a adequação à LGPD na sua integralidade. Apesar de ainda não estarem completamente definidos os mecanismos de apuração das penalidades aplicáveis aos casos concretos, a lei deixa claro em seus princípios que a boa-fé e a intenção do controlador de proteger os dados dos titulares é um fator que deve ser levado em conta.
Ou seja, pelos princípios jurídicos apresentados na LGPD, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) tem o önus de levar em conta o contexto da conduta do infrator no momento da aplicação da penalidade. Isso significa que, muito embora não seja possível erradicar completamente a possibilidade de que ocorram ataques que resultem em data leaks, a demonstração pela transportadora, por meio de evidências, de que buscou efetivamente cumprir a legislação, e proteger os dados dos titulares, pode ser suficiente para mitigar significativamente as penalidades que possam vir a ser impostas pela Autoridade.
A aplicação plena da LGPD ainda não é uma realidade em nenhum setor da economia, e isso não é diferente no transporte. A regulamentação da norma ainda é parcial, e os precedentes judiciais ainda são escassos e pouco trazem de segurança jurídica.
Ainda assim, seja por pressão do Poder Público ou das forças do mercado globalizado, ela deve ganhar cada vez mais força, fomentada pela economia orientada a dados e pelo avanço incessante da tecnologia. Ao transportador, como a todos os setores, resta se adaptar a esta realidade que já é presente, sob pena de sofrer as consequências pela mão do Estado, ou da sempre presente concorrência.


Referências:
1 VENTURA, Felipe. Tecnoblog. Exclusivo: vazamento que expôs 220 milhões de brasileiros é pior do que se pensava. Disponível em:
https://tecnoblog.net/404838/exclusivo-vazamento-que- expos-220-milhoes-de-brasileirose-pior-do-que-se-pensava/. Acesso em: 26 set. 2021.
2 BARBOSA, Fernando. Revista Pegn. E-commerce cresce e chega a 1,59 milhão de negócios no país. Disponível em: https://revistapegn.globo.com/Economia/noticia/2021/08/e-commerce-cresce- e-chega159-milhao-de-negocios-no-pais.html. Acesso em: 26 set. 2021

Por:

Guilherme Cesca Salvan – COMJOVEM Região Sul de SC