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Argentina: exportações brasileiras de balas e chocolates já derreteram 60%

por | set 19, 2014 | Artigos Técnicos, Internacional

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Chapéu:

Além das montadoras e da indústria calçadista, a Argentina também tem tirado o sono dos fabricantes brasileiros de balas, chocolates e amendoins. Nos últimos dois anos, o volume de exportação de balas para o país vizinho – que era o principal parceiro comercial do setor – despencou 60%. Entre os chocolates, a queda de exportação para a Argentina foi de 30%.

Diego Heineck, gerente de Exportação da Simonetto Alimentos, no Rio Grande do Sul, não esperava que fosse ver um dia suas exportações para os argentinos chegarem a zero. No entanto, neste ano, nem um pacote de caramelos deixou a fábrica localizada em Tapejara com direção à Argentina. “Exportávamos cerca de US$ 2 milhões por ano três anos atrás”, lamenta. “Era sempre o primeiro ou segundo maior destino das nossas exportações.”

A redução na produção foi inevitável – hoje Heineck produz 30% menos. Naturalmente o corte de pessoal foi outra conseqüência. Embora o executivo não negue a redução de quadro, prefere não divulgar a quantidade de profissionais desligados.

O drama do mercado de doces é o mesmo dos calçados. O governo argentino está postergando a emissão da Declaração Jurada Antecipada de Importação para as empresas importadoras, inviabilizando o fechamento de novos negócios e entrada de produtos brasileiros.

Os esforços da diplomacia parecem estar concentrados em setores de maior faturamento. “O livre comércio preconizado pelo Mercosul não está sendo respeitado”, diz Romualdo Silva, vice-presidente do Comitê de Exportação da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab).

O impasse se deve à crise local. Tanto que exportadores argentinos têm conseguido alguns ganhos. “Se a empresa importadora tem alguma pauta de exportação no negócio, tem mais facilidade para importar. Está em um formato um para um”, sinaliza Silva.

A crítica dos empresários é para a diplomacia que, aparamente, não tem gerado resultados ao setor. “O governo se preocupa com os segmentos maiores. Nós do segmento de alimentação estamos sem nada, o governo não tem agido”, diz Carlos Assis, gerente de Exportação da Dori.

Essa dificuldade não está restrita às pequenas empresas. Produtos da Dori chegaram a ficar parados nos estoques dos importadores argentinos por dez meses – quando os produtos enviados venciam em 12 meses. “Antes passava pela alfândega e ficava preso no cliente, sem autorização para venda”, explica. “Para evitar que os produtos vencessem e o importador perdesse tudo, decidiram que não enviássemos mais os produtos. Hoje, sem a declaração a gente nem manda os produtos.”

 

Segundo Assis, é impossível compensar a perda no mercado argentino. Entre 2010 e 2014, já estão exportando 72% menos. “Nós investimos no mercado interno e em outros países, mas cada local tem sua dificuldade”, sinaliza o executivo. “Caiu muito o volume para a Argentina, mas ainda assim eles são um mercado que consome 12% da nossa exportação.” As exportações valem 13% do faturamento total da Dori.

Falta de acordos comerciais dificulta o acesso a novos mercados

Por mais que tenham buscado novos mercados, o cenário está para lá de complicado. A tarifa de importação para a Angola, por exemplo, que era um mercado muito importante para a Dori, passou de 15% para 35%. Nos Estados Unidos há um subsídio para outros produtores que nos torna 6% mais caros e no Canadá a taxa passou de 5% para 9,5%. “Nosso produto ficou mais cara e estamos concorrendo com México e Colômbia, que tem acordo comercial com todos esses países”, lamenta Assis.

A Abicab tem dispersado os esforços para tentar diminuir essa dependência. “A gente tem feito um trabalho muito sério em preparar as empresas brasileiras para atingir novos mercados ou aumentar a exportação nos Estados Unidos”, aponta Romualdo Silva, da associação. “Se estamos perdendo nos mercados vizinhos, imagine no resto. Estamos longe de quase todos os clientes consumidores.”

A África do Sul, por exemplo, foi um dos mercados que encolheu com um aumento de tarifa de 25% para 37% sobre as exportações. Na América Central, a perda de volume reside na mesma falta de acordo comercial. “No Caribe, por exemplo, a gente já entra perdendo para a Colômbia.”