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Só haverá recuperação se houver estímulo, diz Joseph Stiglitz, Nobel de Economia

por | fev 22, 2021 | Notícias

Fonte: Valor Econômico
Chapéu: Economia
Joseph Stiglitz: “Se as empresas forem à falência, não vamos ser capazes de nos recuperar muito rapidamente” — Foto: Jason Alden/Bloomberg

Para o ex-economista-chefe do Banco Mundial, é necessário investir em infraestrutura e na transição ecológica

Só haverá recuperação econômica depois da pandemia se as populações mais vulneráveis e afetadas tiverem sido protegidas: as empresas e pessoas que forem à bancarrota não podem “se desfalir” (unbankrupt) por conta própria, afirma o economista americano Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de economia de 2001 e economista-chefe do Banco Mundial de 1997 a 2000. Só os pacotes de estímulo não bastam para garantir a volta ao crescimento, afirma.

Para Stiglitz, há duas etapas de recuperação: primeiro, o apoio aos mais expostos. Em seguida, os investimentos em infraestrutura e na transição ecológica, que durarão décadas e, para o economista, serão uma importante fonte de empregos e crescimento.

Ao mesmo tempo, enquanto os países mais ricos são capazes de expandir violentamente a base monetária, financiando assim suas estratégias de recuperação, o mesmo não vale para países em desenvolvimento, que sofreram tombos ainda maiores durante a pandemia. Segundo Stiglitz, o Fundo Monetário Internacional (FMI) pode ser acionado para auxiliar esses países, por meio dos direitos especiais de saque. O que impediu essa resposta de ser implementada no ano passado foi o governo de Donald Trump nos EUA, mas este ano, diz Stiglitz, é possível chegar a um pacote de pelo menos US$ 500 bilhões.

Depois da pandemia, abre-se um novo capítulo na história do pensamento macroeconômico, de acordo com o economista. A necessidade de resgatar famílias e negócios que corriam risco de falir, a constatação de que serviços de saúde privados não davam conta do recado e a incerteza que dominou os mercados na última década levam a reconsiderar os paradigmas dominantes desde a década de 1990, afirma.

No livro “Povo, Poder e Lucro” (Record, 406 págs., R$ 89,90), recém-lançado no Brasil, Stiglitz argumenta que políticas de liberalização implementadas desde a década de 1980 e reforçadas no governo de Donald Trump não apenas prejudicaram a economia americana, mas também a democracia. O aprofundamento da desigualdade prejudica a capacidade de empreender e favorece os oligopólios, o que se reflete na captura da por interesses financeiros. Para Stiglitz, é necessário criar novas políticas de regulação do mercado de trabalho e de atuação do Estado na economia.

Em seus artigos mais recentes, o economista tem se debruçado sobre o conceito de “pseudo-riqueza”, isto é, aquela que os detentores de ativos acreditam ter ao projetar suas expectativas de valorização. Stiglitz argumenta que essa percepção de riqueza, desconectada do valor produzido pelos mercados e pela economia real, pode ser fonte de instabilidade e crises.