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Muita calma nessa hora…

Muita calma nessa hora…

Analisar com isenção os acontecimentos, deixar a intuição fluir livremente (e acreditar nela) é, muitas vezes, mais revelador do que qualquer informação privilegiada. No último sábado, 5 de março – em meio às discussões que se seguiram ao episódio da condução coercitiva do ex-presidente Lula, postei o seguinte comentário no grupo de whatsapp NTC&L, do qual participam algumas das principais lideranças do TRC:

Quanto ao Lula, acho que, no fundo, não querem nem prendê-lo (preso, ele seria um problema permanente). Para o fim a que se destina toda essa movimentação , judicial e midiática, basta torná-lo inelegível, como ‘ficha suja'…

De onde tirei isso? Não sei. Nunca li nada a respeito, nem ouvi de ninguém esta informação. Provocado pela intensa troca de opiniões sobre o atual quadro político, e pela evidência de que o pessoal da Lava Jato ficou perturbado com a reação pirotécnica do ex-presidente (que muitos julgavam politicamente morto), essa possibilidade brotou de repente na minha cabeça. E senti necessidade de registrá-la naquele grupo.

Pois bem, convido o leitor a ler a matéria postado na madrugada desta 2ª feira pelos jornalistas Flávio Ferreira e Bela Megale, no UOL/Folha, sob o título “Lava Jato cogita abrir ação que impediria candidatura de Lula” (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/03/1747080-lava-jato-cogita-abrir-acao-que-impediria-candidatura-de-lula.shtml), que confirma, ipsis litteris, o caminho que vislumbrei:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser alvo de ação civil de improbidade administrativa na Operação Lava Jato, que tem como uma das punições a proibição de disputar eleições.

Lula pode ser acusado nesse tipo de processo caso fique comprovado que empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras pagaram custos de obras do sítio frequentado por ele em Atibaia (SP) no final de 2010, quando ainda era presidente, para beneficiá-lo ilegalmente.

Na Lava Jato, já estão em curso cinco ações de improbidade com pedidos de decretação de inelegibilidade por até dez anos contra (outros) acusados. A Folha apurou que integrantes da força-tarefa do Ministério Público Federal já consideram a possibilidade de que Lula seja alvo de uma causa deste tipo, no âmbito da 24ª fase da Lava Jato, na qual são investigados supostos atos de corrupção e lavagem de dinheiro ligados à propriedade rural.

Ora, uma ação civil de improbidade administrativa não pode resultar em pena de prisão; quando muito, em caso de condenação, dela decorrerá a obrigação de ressarcimento ao erário, se for o caso. Mas pode resultar em inelegibilidade, com base na “Lei da Ficha Limpa”.

Impossível garantir, de antemão, que isso acontecerá. Mas não vejo uma discussão consistente na mídia a respeito dessa possibilidade. Aliás, algo muito parecido aconteceu com a questão da eleição indireta para presidência, em caso de cassação pelo TSE – que foi objeto de outro artigo (sob o título: “Como nos velhos tempos”), que publiquei neste blog em 16/02/16. Por mera coincidência, dias depois disso começaram a sair, timidamente, algumas notas, na grande imprensa, sobre a possibilidade concreta de virmos a ter um pleito indireto para presidente da República, culminando, no último domingo, com um certeiro comentário do brilhante jornalista Elio Gaspari (http://m.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2016/03/1746854-moro-deu-a-lula-o-papel-de-coitadinho.shtml?mobile).

Não faço este registro para postular “furo” ou precedência. Não sou jornalista; não vivo de dar ou comentar notícias. O meu objetivo, aqui, com essas observações, é apenas o de instar o leitor a desarmar o seu espírito, a sair do tiroteio em que se transformou a repercussão dos fatos revelados quase semanalmente pela Operação Lava Jato. A gravidade do momento exige equilíbrio; não combina com leviandade, nem com a radicalização fútil que tomou conta das redes sociais, nem, menos ainda, com o enviesamento flagrante que domina o noticiário da grande mídia.

O exercício que tenho procurado fazer (e que tem dado alguns frutos interessantes, como os relatados acima) é o de me colocar diante das notícias sempre com espírito crítico, tentando entender os fatos e as intenções por trás delas, sem me emocionar com os resultados e, sobretudo, deixando um espaço generoso para que a intuição ajude a antever o possível rumo dos acontecimentos.

Você não precisa acreditar nisso, nem concordar com isso. Mas, em todo caso, não convém deixar-se envenenar com a boataria infernal e com a avalanche de notícias plantadas pelas forças em confronto, para conquistar corações e mentes.

Exercer a cidadania com discrição e comedimento, manifestar opinião e protestar contra tudo o que conspire contra o normal desenvolvimento dos negócios, se possível apontando soluções e alternativas, é mais que direito; é dever do empresariado. Mas isso não se confunde com a busca de um protagonismo ruidoso e perigoso, que muitas vezes vejo ser defendido por empresários, com ardor juvenil.

 A luta pelo poder é cruel e sem limites. Quem não tem poder político – mas tem o que perder –, deve redobrar o cuidado antes de se meter em terreno que não conhece, manejando armas que não domina.

*  *  *  *  *       

Geraldo Vianna é advogado, consultor em Transportes, ex-presidente da NTC&Logística e Diretor da CNT.

Muita calma nessa hora…

Os três conceitos de depreciação 2

A depreciação operacional nada mais é do que a perda de valor de mercado pelo veículo ao longo da sua vida útil.
 
A depreciação operacional atende de maneira mais adequada do que a depreciação contábil às necessidades de elaboração de custos operacionais e de planilhas de fretes por idade dos veículos. Para calcula-la, podem ser usados métodos decrescentes ou lineares.
 
Os métodos decrescentes calculam a perda efetiva de valor comercial do veículo no mercado ao longo da sua vida útil e refletem melhor a realidade, uma vez que:
 
 A perda de valor é muito grande no início, mas decresce com o tempo, até praticamente estabilizar-se;
 
 Quando uma transportadora compra um caminhão, espera retorno rápido, podendo arcar com maiores custos nos primeiros anos;
 
 A eficiência do equipamento reduz-se gradativamente com o tempo. Após alguns anos, um caminhão de linhas longas é transferido para linhas curtas ou para entregas urbanas e pode encerrar sua “carreira” num pátio de manobra;
 
 Veículos mais modernos e eficientes vão sendo lançados, tornando o atual menos eficiente;
 
 Permite compensação entre o aumento do custo de manutenção e a redução da depreciação;
 
Evita erros na distribuição dos custos de capital ao logo do tempo, pois os valores residuais a cada ano são diferentes para os dois métodos.
 
Uma maneira prática de se calcular a depreciação operacional é levantar o valor de mercado do veículo em revistas especializadas ou mesmo pelas tabelas de IPVA.
Usualmente, o que se faz é adotar como base o preço inicial e o valor residual (valor final de revenda) e interpolar valores entre os dois segundo uma lei de formação escolhida. Os métodos mais usados são o exponencial e o do dígito dos anos.
 
Pelo método exponencial, Obtém-se os valores intermediários utilizando-se uma equação exponencial negativa do tipo:
 
 b < 1
Vo = Preço de compra do equipamento
Vn  = Valor no fim do ano n
n = Vida útil econômica do equipamento

Pelo método do dígito dos anos, a taxa de depreciação de no ano N de um veículo de vida útil n corresponde a uma fração cujo denominar é a soma dos n primeiros naturais e o numerador equivale aos anos remanescentes de vida útil ao final de cada ano.
 
Quando a variação do custo com a idade do veículo é importante para o cálculo (por exemplo, na determinação da vida útil econômica de um veículo), devem ser utilizados os modelos matemáticos apresentados ou diretamente o valor de mercado do veículo usado. 
 
No entanto, quando o objetivo é apenas obter o custo médio anual, para efeito de orçamento de custos, admitindo-se que a transportadora tenha uma distribuição equilibrada de caminhões por idade, os métodos lineares satisfazem plenamente, desde que adotado um valor residual correspondente ao preço de revenda do veículo no fim da sua vida útil.
 
Continua
 
 

Neuto Gonçalves dos Reis
Diretor Técnico Executivo da NTC&Logística, membro da Câmara Temática de Assuntos Veiculares do CONTRAN e presidente da 24ª. JARI do DER-SP.

Muita calma nessa hora…

Educação: transporte para o futuro

slogan que serve de título a esta matéria foi lançado há muitos anos pelo Sindicamp (Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Campinas e Região), sob a presidência do amigo Valter Boscato. Tempos depois, a CNT (Confederação Nacional do Transporte) utilizou-o em diversas ações. Eu mesmo lancei mão dele em palestras que andei dando sobre o tema, que sempre foi uma das minhas maiores preocupações.

Tenho sustentado que as nossas deficiências em Educação são muito mais dramáticas do que as que temos na infraestrutura de transporte e logística. A diferença é que estas podem ser superadas, talvez em 10 anos, contados de quando tivermos recuperado algumas condições fundamentais, tais como: vontade , competência gerencial e capacidade de atrair e mobilizar recursos privados. Já a fragilidade do nosso sistema educacional vem comprometendo gerações inteiras e, mesmo com vontade política, competência gerencial e todo dinheiro do mundo, vamos precisar de uma ou duas gerações para começar a melhorar. Até lá, vamos continuar levando goleadas humilhantes nos rankings internacionais de universidades e nas “olimpíadas” de matemática, física, química etc.

Ninguém discute que é preciso promover mudanças radicais no modo como ensinamos e preparamos para a vida as nossas crianças e os nossos jovens. E aqui não estamos falando de dinheiro. O Brasil já gasta mais com educação do que muitos países ricos, embora o gasto per capita ainda seja pequeno (v., a propósito, http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/09/140908_relatorio_educacao_lab). E o salário do professor também é muito baixo: US$ 14,8 mil/ano (calculado em paridade de poder de compra), menos do que se paga na Turquia e Chile, por exemplo. E muito abaixo de países como a Suiça (que paga quase 5 vezes mais) e a Holanda (4 vezes mais).

Claro que é necessário melhorar a qualidade do ensino, o que significa ter um currículo mais adequado, melhores condições de trabalho para os professores (média de 32 alunos por classe, contra 27 no Chile e 8 em Portugal), ter mais professores, mais bem pagos. É exatamente nisso que mora a grande dificuldade. Onde conseguir professores capacitados para ensinar mais de 50 milhões de alunos? Não se pode esquecer que grande parte dos potenciais mestres provém dessas últimas gerações que vêm tendo deficiências em sua formação. Ninguém pode ensinar o que não sabe.

Essas questões, que sempre me preocuparam, voltaram a me assombrar, quando li um pequeno artigo de RUY CASTRO, sob o título “Expulsos da história” (FSP, 26/02/16, pág. A-2), que me fez lembrar que nada é tão ruim que não possa piorar. E piorar muito.

Diz ele, ao comentar a “Base Nacional Comum Curricular”, que vem sendo gestada pelo Ministério da Educação:

Se aplicada o Brasil virará as costas ao componente europeu de suas origens e abraçará com exclusividade o seu lado indígena e africano (…).

Pelas novas diretrizes, evaporam-se o Egito, berço da urbanização, do comércio e da escrita, a Grécia, do teatro, da poesia e da filosofia, e a Roma da prática jurídica, política e administrativa. Ignora-se o surgimento do judaísmo, do cristianismo e do Islã e desaparecem a Idade Média, o Renascimento e as navegações, estas só lembradas para dizer que o europeu escravizou e dizimou. A Revolução Industrial, o Século das Luzes e as conquistas científicas e tecnológicas de ingleses, franceses e americanos, tudo isso deixa de existir.

Quanto ao Brasil, todos os fatos envolvendo portugueses ou luso-brasileiros são desconsiderados. Os novos protagonistas passam a ser os ameríndios, africanos e afro-brasileiros. Bem, se os portugueses são enxotados do currículo com essa sem-cerimônia, considere-se também expulso da história se seus ascendentes forem libaneses, italianos ou japoneses – derramaram o suor em vão por um país que, agora, lhes mostra a língua”.

Não pude deixar de pensar na prática stalinista de reescrever a história, na velha União Soviética. Quem quer que caísse em desgraça perante o regime tinha o nome retirado de todos os documentos, que eram reescritos por causa disso. E tinha também a sua imagem apagada de todas as fotografias e até de pinturas. Uma trabalheira enorme, só para atender aos caprichos dos comissários, até que eles próprios também caíssem em desgraça. E assim a história ia sendo reescrita permanentemente. Se a tal “Base Nacional Comum Curricular” realmente emplacar, o Brasil vai ter de jogar fora todos os livros didáticos escritos até agora. E milhões de outros terão de ser escritos e editados. Quem sabe não se trata de uma medida anticíclica para animar o mercado editorial…

Na verdade, eu já tinha tido referência desse assunto em algum site ou rede social. Mas não dei maior importância porque a notícia me parecia tão absurda que a atribuí às maluquices da internet. Todavia, diante de um texto assinado por um dos maiores escritores brasileiros, além de jornalista de velha guarda – acostumado a apurar a notícia antes de publicá-la – e estampado em espaço nobre de um dos mais importantes jornais brasileiros, não era possível ignorar a ameaça. Mas pensei: a coisa é tão sem pé nem cabeça que amanhã deve vir um desmentido do MEC. Pois não veio até agora, dois ou três dias depois (*). Então fui pesquisar para saber o que havia de verdade em tudo isso.

Descobri que há de fato um vasto documento, elaborado por notórios especialistas da área, que, posteriormente, foi objeto de uma consulta pública, denominado “Base Nacional Comum Curricular” conhecido, nos meios técnicos, pela sigla BNCC. Ele pretende definir o currículo escolar – do curso fundamental e do médio, ano a ano, para todas as matérias obrigatórias, e não só de história – que deve ser respeitado em todo o país, no ensino público tanto quanto no particular. Em respeito às peculiaridades regionais e a outros interesses, admite-se que se possa acrescentar outros conteúdos, além do currículo básico comum que, todavia, deve representar, no mínimo, 60% do que for ministrado.

Aprendi, também, que a existência daquele documento não foi invenção de alguma mente diabólica. Menos mal. De fato, a existência de conteúdos mínimos está prevista no art. 210 da Constituição Federal (“Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. § 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem”). Posteriormente, a “Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional” (Lei 9.394/96) regulamentou a matéria [“Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos”. (Redação dada pela Lei nº 12.796/13). Por fim, a Lei 13.005/14 aprovou o Plano Nacional de Educação (PNE) que, em sua Estratégia 7.1 dispôs: estabelecer e implantar, mediante pactuação interfederativa, diretrizes pedagógicas para a educação básica e a base nacional comum dos currículos, com direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos (as) alunos (as) para cada ano do ensino fundamental e médio, respeitada a diversidade regional, estadual e local.

Agora, aquele documento será revisto pelo grupo nomeado pelo Ministro da Educação para executar este trabalho, levando em conta as contribuições recebidas na consulta pública e, até abril, deverá ser encaminhado ao Conselho Nacional de Educação, para só então passar a ser de observância obrigatória, com certeza sendo implantado paulatinamente.

Li com atenção o tal BNCC, na parte referente a História. Embora tenha carregado nas tintas, talvez de propósito, para provocar reações, a verdade é que RUY CASTRO – cuja história no jornalismo e nas letras nacionais, não permite que ninguém o classifique de direitista, reacionário, “coxinha” ou qualquer coisa do gênero – tem razão quando alerta para o exagero do que se propõe. Ninguém discute que será muito saudável relativizar o caráter francamente eurocêntrico que sempre marcou o ensino de História entre nós, abrindo espaços generosos ao aprendizado da influência dos povos indígenas e africanos que, ao lado do europeu conquistador, marcaram a formação da nossa nacionalidade e da cultura brasileira em praticamente todos os seus aspectos. Mas se erramos até hoje em negligenciar essa influência, nada justifica que passemos a errar pelo oposto.

A leitura das diretrizes constantes do BNCC evidencia uma nítida tendência a minimizar a nossa filiação à civilização greco-romana, aparentemente para defender o protagonismo das vertentes ameríndias e africanas. É evidente que nada disso é neutro, mas tem um claro viés ideológico, o que não se coaduna com o estabelecimento de diretrizes de política educacional.

Se temos falhado miseravelmente em fazer com que o nosso sistema educacional transporte o país para o futuro, é nossa obrigação, ao menos, impedir que ele destrua o nosso passado, tornando o Brasil um enigma indecifrável para as gerações que nos sucederem. Isso seria um crime inominável contra a cultura brasileira.

Para impedir que ele se concretize, com certeza ninguém se animará a sair às ruas. Mas deveria.

*  *  *  *  *

(*) Este artigo já estava escrito quando, na 2ª feira, 29/02, a FOLHA estampou dois grandes artigos sobre o tema (pág. A-3): um defendendo a BNCC, de autoria de Manoel Palácios, secretário de Educação Básica do MEC, e outro criticando a iniciativa, escrito por Marcelo Rede, doutor em história pela Sorbonne e professor de história antiga da USP. Na leitura desses dois textos não encontrei motivo para alterar uma vírgula do que escrevi. Mas fica o registro, para quem quiser saber mais sobre a matéria.

*  *  *  *  *

Geraldo Vianna é advogado, consultor em Transportes, ex-presidente da NTC&Logística e Diretor da CNT.

Muita calma nessa hora…

Os três conceitos de depreciação

Os conceitos de depreciação variam com a finalidade à qual o cálculo se destina:
 

·  Legal ou contábil – depreciação do contador
 

·  Operacional ou técnica – depreciação do engenheiro
 

·  Econômica. –  depreciação do economista
 


Depreciação legal


O cálculo da depreciação legal é feito para atender às necessidades contábeis e fiscais. Neste caso, a depreciação é considerada uma despesa (crédito) correspondente à diminuição do valor contábil dos bens do ativo (débito) capaz de refletir a perda de valor contábil resultante do desgaste do veículo pelo uso, ação da natureza e desgaste normal e obsolescência.


Como o lançamento direto da compra como despesa gera um custo muito elevado no primeiro ano e muito baixo nos anos seguintes, o ativo é capitalizado, e o contador vai dando baixa, como custo, de uma parcela fixa a cada ano.


A depreciação legal é linear e não tem relação com o valor do bem no mercado. O prazo de depreciação é aquele durante o qual se pode esperar a utilização econômica do bem.


O desgaste pelo uso ou ação da natureza afeta fisicamente o equipamento, reduzindo sua capacidade de produção. Já a obsolescência não depende do estado do equipamento, mas do lançamento de modelos mais novos e eficientes.


A obsolescência excepcional, assim como acidentes e catástrofes não podem ser incluídos na depreciação.


A depreciação legal não representa desencaixe. Pressupõe-se que esse valor seja incluído no preço e que, com ele, a empresa forme um fundo de caixa para repor o veículo.


Quanto maior o valor que puder ser contabilizado, maior a chamada recuperação fiscal, ou seja, a redução do Imposto de Renda e da Contribuição Social Sobre o Lucro (CSLL) a pagar.


O lançamento anual da depreciação adia o pagamento do Imposto de Renda. Quando o caminhão é vendido, faz-se o acerto, apurando-se o resultado (lucro ou prejuízo) pela diferença entre valor de venda e valor contábil residual.


A recuperação fiscal depende do tipo de atividade e porte da empresa. Inexiste, por exemplo, numa repartição pública ou para uma empresa que optou pelo regime de lucro presumido.


Para empresas sujeitas ao regime de lucro real, a alíquota é de 15% sobre o lucro com adicional de 10% sobre a parcela que exceder a R$ 240 mil anuais ou R$ 60 mil trimestrais. A alíquota da CSLL é de 9% sobre uma base de cálculo que corresponde a 32% da receita (2,88%). Assim a taxa de recuperação fiscal para empresas sujeitas ao lucro real pode superar os 17,88%,


A taxa real de recuperação fiscal é muito importante na análise de alternativas de financiamento envolvendo leasing, cujas prestações são contabilizadas integralmente como despesa, gerando maior economia tributária do que a compra do veículo.


Para caminhões, geralmente são utilizadas taxas de depreciação de 20% ao ano para condições normais de uso e, para condições severas, 25%.


 

Continua


Neuto Gonçalves dos Reis
Diretor Técnico Executivo da NTC&Logística, membro da Câmara Temática de Assuntos Veiculares do CONTRAN e presidente da 24ª. JARI do DER-SP.

Muita calma nessa hora…

Ainda as concessões rodoviárias

Em agosto do ano passado, escrevi um longo artigo, dividido em quatro capítulos, sob o título “PPPs, concessões e futuro”, que continuam disponíveis no blog. A sua motivação foi o excelente “Plano CNT de Transporte e Logística – 2014 (5ª Edição)”, que fez um inventário rigoroso das nossas carências nesta área, para concluir, de forma objetiva e certeira, que: “uma significativa parcela da infraestrutura de transporte, em todas as modalidades, encontra-se obsoleta, inadequada ou ainda por construir. Algumas delas operam no limite ou mesmo acima da sua capacidade, enquanto outras carecem de manutenção” (…) essa situação representa um entrave ao crescimento do país e gera reflexos negativos, como aumento do tempo de viagens, maior custo operacional, aumento do número de acidentes e dos níveis de emissão de poluentes”.

Mas o estudo da CNT não se limitou ao diagnóstico. Num esforço técnico extraordinário, identificou, detalhou e quantificou 2.045 projetos prioritários de infraestrutura de transporte, de todos os modais, nas áreas de cargas e de passageiros.

Quanto custaria eliminar o nosso atraso logístico? O “Plano CNT de Transportes e Logística” responde, numa estimativa conservadora: R$ 987 bilhões, quase 20% do PIB!

Não dá para ter ilusões: com as atuais restrições orçamentárias, contando apenas com recursos públicos, não teremos condições de enfrentar este desafio nem nos próximos 30 ou 40 anos. Acontece que as obras listadas como prioritárias são “para ontem”; já deveriam estar concluídas e servindo à população. Como não estão, o mínimo que se espera é que elas sejam iniciadas e fiquem prontas no menor prazo possível. Para isso, não adianta ficar bradando impropérios ou exercitando preconceitos ideológicos: aquele investimento gigantesco terá de ser feito pela iniciativa privada mesmo, sob a forma de concessões ou PPPs. Ou não será feito.

Isso vale para o governo federal, tanto quanto para os Estados e municípios.

Como se sabe, o atual momento de crise econômica e não é o ideal para atrair investimentos de grande porte para contratos de longo prazo de duração. Além disso, as grandes empresas brasileiras, investidoras tradicionais nesta área, estão muito ocupadas com os desdobramentos, que parecem não ter fim, da operação Lava Jato. Mas é este o desafio a superar. Ou fazemos isso logo, ou prolongaremos indefinidamente esse momento triste, de governança medíocre, onde tudo se torna negativo, até o crescimento.

Além de vencer os preconceitos já mencionados, é preciso superar também a reação emocional de parcelas da sociedade, inclusive no setor de transportes, que tendem a ver a cobrança de pedágio, não como contraprestação de investimentos e prestação de serviços relevantes, mas como uma espécie de sinecura [que pode até estar presente em algumas situações, mas não invalida, nem deve interditar, a celebração desses contratos públicos, na forma da lei].

Este sentimento difuso e equivocado, por óbvio, não contribui para a criação de um ambiente propício às concessões e PPPs. E colabora para aumentar a sensação de risco do negócio, o que conspira contra a desejada modicidade das tarifas.   

 Volto a este tema por conta do primarismo com que ele foi veiculado pelo jornal FOLHA DE S.PAULO, na sua edição de domingo (“Cotidiano”, 21/2), com direito a chamada de primeira página: “Alckmin planeja 25 novos pedágios em estradas paulistas”.

É incrível que, depois de mais de 20 anos de convívio com as concessões rodoviárias, prevaleça nas redações esta visão reducionista. Só faltou pedir a um dos competentes cartunistas do jornal, uma ilustração mostrando o governador trancado do palácio, com seus assessores, numa sala sombria, pregando alfinetes no mapa de São Paulo, a significar as tais 25 novas praças de pedágio, numa trama sinistra para prejudicar a população, quando, na verdade, o de que se trata ali é de algo muito mais complexo, estratégico e essencialmente positivo.   

Ninguém planeja implantar praças de pedágios, nem a quantidade delas tem qualquer significado importante, sem que se saiba, ao menos, onde serão instaladas, qual o valor da tarifa e qual a quantidade de quilômetros esta tarifa vai franquear ao usuário. Aliás, está na hora de os nobres jornalistas aprenderem que o jeito certo de avaliar e comparar tarifas de pedágio é por quilômetro e não por praça.

Por outro lado, muitas vezes é melhor ter mais praças de pedágios porque, se bem localizadas, elas evitam evasão e garantem uma quantidade maior de usuários pagantes e, assim, uma redução da tarifa resultante. “Onde todos pagam, todos pagam menos”. Ao contrário, quando muitos deixam de pagar o pedágio, porque a posição das praças permite um tráfego significativo sem pagamento, os que pagam, certamente arcarão com um ônus muito maior. “Não existe almoço grátis”. Alguém sempre pagará pelos que andam de graça.   

A notícia que não foi dada; ou que foi dada da pior forma possível – porque errada e porque aparentemente calculada para causar mal-estar na população – é a de que o governo do Estado planeja realizar novas concessões, isto é, que tais e quais novos trechos rodoviários terão a sua gestão delegada à iniciativa privada, o que, insisto, é essencialmente positivo, porque sinaliza que em breve  novas rodovias concedidas apresentarão melhora substancial, com mais conforto, segurança e redução de custos para os usuários.  

Redução de custos, sim, por mais que isso possa chocar muita gente.

Depois de ter vivido a primeira fase das concessões dentro de empresa de transporte, gerindo frotas e acompanhando custos operacionais, não tenho a menor dúvida em afirmar que, até no Estado de São Paulo, em que as tarifas são reconhecidamente mais elevadas em razão do modelo adotado, a relação custo/benefício da concessão é, no final, muito favorável ao usuário (sem prejuízo de poder ser, também, um bom negócio para o concessionário – em algumas concessões mais do que em outras).

Participei também, durante as últimas duas décadas, de dezenas de reuniões de grupos paritários (comissões tripartites) de concessões, entendendo a lógica do sistema e aprendendo os “pulos do gato”. E, por fim, fui conselheiro da ARTESP, agência reguladora estadual, e tive muitas discussões no âmbito da ANTT, já como presidente da NTC&Logística.

É com essa visão ampla, tendo tido a oportunidade de conhecer a realidade a partir do ponto de vista de cada um dos envolvidos: do usuário particular, do transportador, do concessionário e do poder público, é que não pratico “achismo” nesta matéria. Tenho, isso sim, convicções muito firmes e fundamentadas, no sentido de que, a depender de alguns ajustes que o modelo ainda comporta, a delegação da gestão da infraestrutura de transporte para a iniciativa privada é a solução mais indicada em praticamente todas as situações.

E é por ter certeza disso, que fico realmente muito irritado quando vejo tanta desinformação. É um absurdo que se continue tentando vender como má notícia o que, na verdade, é a única solução que nos resta para ainda poder sonhar com uma retomada de crescimento, sem que ela se converta, mais uma vez, em “voo de galinha”. Porque quase 1 trilhão de reais (ou um quarto de trilhão de dólares) de investimento privado, nacional e estrangeiro, levanta e anima qualquer economia.

É, além de tudo, o mais formidável programa anticíclico que se poderia imaginar, sem que o governo precise gastar nada – ao contrário, reduzindo os seus gastos e aumentando as suas receitas, por conta da reativação da atividade econômica.

É o antídoto perfeito para a nossa “tempestade perfeita”…

*  *  *  *  *

Ainda sobre a “CPMF compensável”

Estou devendo ao amigo Paulo Roberto Guedes uma resposta ao longo e-mail que me remeteu contestando a sugestão suscitada no meu artigo de duas semanas atrás (A CPMF “fora da caixa”).

Ele achou a ideia interessante, mas considera a tentativa de recriação deste tributo “um erro e não será solução para quaisquer dos problemas brasileiros atuais (…) pois além de gerar um desgaste extraordinário junto à sociedade e um problema ainda maior no Congresso Nacional (…) irá aumentar os custos de produção e tirar dinheiro de um mercado já enxuto e sem recursos para o consumo e o investimento”.

E prossegue, lembrando que a nossa economia está em recessão há pelo menos dois anos e que caminha para mais uma queda do PIB em 2016, o que provocou a erosão da receita tributária. ”Portanto, agora, espera-se que o aumento da receita se dê através do crescimento da economia e não através do aumento das alíquotas ou de novos impostos”, mesmo porque a carga tributária já está muito elevada, devendo chegar a 36% do PIB neste ano.

Além disso, lembra que, segundo cálculos do próprio governo, o potencial arrecadatório da CPMF seria de R$ 35 a R$ 40 bilhões, o que representa muito pouco frente ao déficit primário de 2015 e o que se espera para 2016.

Em seguida, toca no ponto em que, aliás, não há qualquer divergência entre nós, qual seja o do crescimento descontrolado da relação dívida/PIB, que foi objeto do meu antepenúltimo artigo (“Como previsto, os juros arruinaram a relação dívida/PIB”), para concluir que a única solução para a gravíssima crise em que nos encontramos passa pela redução fortíssima dos gastos públicos (inclusive com eliminação das vinculações constitucionais e a redefinição do tamanho do Estado brasileiro) e pela retomada do crescimento econômico. Estamos absolutamente alinhados em tudo isso.

Vou pular a parte política da mensagem do Paulo, porque ele não me autorizou a divulgá-la. Quero insistir apenas, por oportuno, que as “pedaladas fiscais” não me convencem como justificativa do impeachment, pelo simples fato de que me soam mais como pretexto, do que propriamente como fundamento jurídico. Note-se que a argumentação neste sentido vem sempre acompanhada da questão da perda da credibilidade e das condições para governar, muito na linha da posição defendida recentemente pela FIESP, que já critiquei aqui; fala-se em impeachment, mas o que se busca, de fato, é um “voto de desconfiança”, solução típica do sistema parlamentarista. No nosso presidencialismo, consagrado pela Constituição e por dois plebiscitos, isso não é possível, senão praticando gravíssima ofensa ao estado de Direito. Ora, se o que se quer, entre outras coisas, é recuperar a credibilidade perante o mundo, não é bom ir por este caminho.

Mas, voltando à ideia da “CPMF compensável”, o que sustentei é que, com este ou com qualquer outro governo, vamos precisar fechar as contas, com redução de despesas e, inevitavelmente, com alguma forma de aumento de arrecadação, para compensar a grande queda da receita tributária, pelos motivos já comentados. Porque, se isso não for feito, ninguém tenha dúvida, as contas vão acabar fechando do mesmo jeito, só que pela via da inflação, que é, de todas, a pior solução.

O que talvez tenha faltado ao Paulo perceber e valorizar é que, na proposta de “CPMF compensável”, não haverá aumento de carga tributária para quem já paga seus impostos (por força da compensação), mas um aumento de arrecadação proveniente de um tributo praticamente insonegável, que alcança todas as atividades informais, inclusive criminosas, que, segundo sempre se sustenta, corresponde quase a um outro Brasil, oculto, que, não obstante, passaria a pagar imposto.

Feito assim o registro da opinião divergente, e mesmo compreendendo, respeitando e agradecendo os argumentos do amigo e leitor assíduo deste blog, não encontro razões para modificar a posição que defendi anteriormente, sempre lembrando que, talvez, não valha a pena levar tão a sério sugestão nascida numa reunião de entidade de classe, que não está posta, por ora, na agenda do governo, nem na do Congresso Nacional. Eu a registrei naquele artigo porque a considerei realmente muito interessante e numa homenagem ao amigo e ex-presidente da NTC, Oswaldo Dias de Castro.

Não se perca de vista, entretanto, que daqui a pouco tempo, a proposta do Governo de recriação da CPMF entrará em discussão no Congresso. Do jeito que foi apresentada dificilmente passará, mas a gente sabe como essas coisas acontecem por lá, na hora de votações importantes. De repente, algo na linha sugerida pelo Oswaldo pode vir a se constituir, quem sabe, em saída honrosa para todos.

Geraldo Vianna é advogado, consultor em Transportes, ex-presidente da NTC&Logística e Diretor da CNT.

Muita calma nessa hora…

INCTF fecha janeiro com alta de 7,51% em doze meses

O Índice Nacional do Custo do Transporte de Carga Fracionada (INCTF) médio (800 km), calculado pelo Departamento de Custos Operacionais, Estudos Técnicos e Econômicos (DECOPE) da NTC&Logística, fechou janeiro de 2017 com inflação de 7,51% nos últimos doze meses (tabela).
 


A tendência do índice durante o ano foi de declínio, especialmente a partir de setembro de 2016 (gráfico 1).
 


 

Mesmo assim, o INCTF foi bem superior inflação oficial, medida pelo IPCA, que atingiu 5,35% em janeiro de  2017 (gráfico 2).



 

O aumento do INCTF foi puxado pela elevação de salários (8,72%), despesas administrativas e de terminais (8,73%), lavagem de furgão de transferência (8,40%), caminhão de transferência (7,18%), caminhão de coleta e entrega (10,7798%), lavagem de caminhão a (8,40%), seguro do veículo de transferência (4,38%), seguro do veículo de coleta e entrega (9,61%), manutenção do veículo de transferência (6,58%) e de coleta e entrega (6,58%).
 
Um preço que baixou consideravelmente (18,69%) foi o do arla 32. Isso se explica porque o produto está deixando se ser vendido em bombonas para passar a ser vendido a granel. Mesmo assim, sem preço (R$ 2,39 o litro) ainda está bastante alto.
 
Insumos importantes, como óleo de câmbio (1,96%), óleo de cárter (1,50%), pneu 275/80 (-0,23%), recapagem pneu 1000R20 (-1,00%) e furgão para truque (0,48%) tiveram reajustes abaixo da inflação.
 
Contribuiu para segurar os custos, especialmente o preço do diesel S10, que subiu apenas 1,95% durante o ano (gráfico 3).


As oscilações do preço do diesel na bomba não refletem as bruscas variações mensais de preços na refinaria que passaram a ser decretadas pela Petrobrás a partir de outubro de 2016 (gráfico 4).
 

A Petrobrás decretou 5 variações: Redução de R$ 0,05 por litro em outubro, outra redução de 0,20 em novembro, aumento de R$ 0,17 em dezembro, outro aumento de R$ 0,12 em janeiro e uma redução de R$ 0,08/litro em 26ão de R$ 0,08/litro em 26 de janeiro de 2017l.
 
. Isso resultaria teoricamente numa queda final de R$ 0,04. O diesel ainda pode cairum pouco mais até o final de fevereiro.
 
Constata-se que, as duas curvas não são aderentes. Como não houve as reduções previstas para outubro e novembro, não foi necessário aumentar muito os preços em dezembro e janeiro. No final, as duas curvas chegaram praticamente juntas, para abrir uma diferença grande em fevereiro.
 
Para maiores informações, consulte o site www.portalntc.org.br.
 
 

Neuto Gonçalves dos Reis
Diretor Técnico Executivo da NTC&Logística, membro da Câmara Temática de Assuntos Veiculares do CONTRAN e presidente da 24ª. JARI do DER-SP.