Levantamento do órgão sugere investir em ferrovias e melhorar rodovias
O Estado de São Paulo possui o melhor sistema RODOVIáRIO do Brasil, mas as estradas estão sobrecarregadas e, caso o governo não acelere um plano de obras de infraestrutura, o sistema de transporte paulista pode entrar em colapso, segundo um relatório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-SP) que o Valor teve acesso com exclusividade.
De acordo com o documento, que foi entregue ao secretário de Governo paulista, Gilberto Kassab, estudos feitos pelos técnicos do Crea-SP demonstraram que o sistema rodoviário no Estado e na região metropolitana da capital possui um padrão invejável, mas caminha para o esgotamento e não conseguirá mais dar vazão ao crescimento da demanda por transporte de carga e passageiros no curto prazo.
“A sobrecarga na logística e na mobilidade está clara. Se nada for feito, caminhamos para um colapso”, afirma o engenheiro e presidente do conselho do Crea-SP, Vinicius Marchese. “Essa questão já é conhecida. O que nós fizemos foi organizar um documento apontando os gargalos e as soluções para chamar a atenção, pois não podemos mais nos dar ao luxo de não iniciar o que o que precisa ser feito”, complementa.
Na parte logística, o Crea-SP aponta, dentro de São Paulo, as rodovias transportam mais de 80% do fluxo de cargas e quase 100% dos passageiros, o que sobrecarrega o modal rodoviário diante de uma perspectiva de que a demanda cresça e ameace afogar o fluxo. A principal sugestão da entidade é recuperar a malha ferroviária no Estado, já que 2,6 mil quilômetros do total de 5 mil quilômetros do sistema ferroviário paulista estão abandonados. Junto a isso, aumentar o modal ferroviário tanto para transporte de cargas como de passageiros conectando a região com outros Estados brasileiros.
“A nulidade do fluxo ferroviário de cargas de São Paulo para cima do mapa ou para o Sul pressiona bastante. O transporte de cargas em São Paulo para o Sudeste e para o Sul é inexistente. Está tudo em cima da malha rodoviária e com o tempo isso se tornará insustentável”, alerta Marchese, que defende uma maior integração dos modais rodoviário, ferroviário e também dos hidroviários onde a vocação local permita que os rios sejam utilizados. Esse é outro problema complexo a resolver, reconhece o presidente do conselho do Crea-SP, já que a despoluição dos rios paulistas é um desafio e tanto a superar.
Para os engenheiros do Crea-SP, a finalização do Rodoanel, ainda inconcluso no seu trecho Norte, é uma questão urgente junto com a construção de um anel ferroviário em torno da região metropolitana de São Paulo. O documento chama a atenção para o fato de que os trens de carga não conseguem atravessar a região da capital, com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) já sobrecarregada pelo transporte de passageiros.
Isso contribui para outro gargalo que precisa ser urgentemente resolvido, na visão de Marchese, que é o acesso ao Porto de Santos, principal via de escoamento da exportação brasileira. “O transporte até o Porto de Santos precisa ser melhorado é a expansão ferroviária é a melhor solução.”
Outra prioridade relacionada ao maior porto do país respaldada pelo Crea-SP é a construção de um túnel submerso que ligue as cidades de Santos e Guarujá, projeto previsto no plano de privatização do Porto de Santos.
A obra, estimada em custar R$ 2,9 bilhões, ficaria a cargo de quem vencesse a licitação, mas o processo de concessão do porto está suspenso.
O ex-ministro de Infraestrutura do governo Bolsonaro e atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é entusiasta da iniciativa e tenta convencer o governo federal a seguir com o plano que viabilizaria essa obra considerada pelo Crea-SP como fundamental para melhorar o acesso ao porto e a mobilidade na Baixada Santista.
Marchese destaca que já existe um plano desenvolvido pela Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa) que aponta a necessidade de uma série de obras dentro do período entre 2013 e 2040. Chamado de “Plano de Ação da Macrometrópole”, o projeto traz um detalhamento setorial do que precisa ser feito nas áreas de transporte de passageiros e logística de cargas. Contudo, há o receio no Crea-SP de que o plano demore demais a sair do papel, embora a entidade esteja depositando expectativas positivas na gestão de Tarcísio.
“O grande desafio é vontade POLíTICA. Por isso é importante mostrar para a população que o apoio a esses projetos é fundamental que as nossas vidas mudem, para que os preços sejam mais baratos nas prateleiras”, declara Marchese. “Se o Estado de São Paulo quiser continuar sendo pioneiro e a locomotiva do país, não pode funcionar em cima de um único modal – o rodoviário. Vai chegar em algum ponto que vai esgotar e estamos próximos disso caso nada seja feito desde já”, alerta. Procurado pelo Valor para comentar o diagnóstico do Crea-SP, o governo de São Paulo respondeu, por meio de nota da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, que gestão já estuda um plano que considere outros modais além do rodoviário “O objetivo é alcançar esse equilíbrio, em São Paulo, por meio da integração, por exemplo, de ferrovias e hidrovias, o que vai impactar na redução de custos, acidentes e emissão dos gases de efeito estufa”.