Palestra da COMJOVEM sobre Design Thinking aborda inovação e criatividade

Palestra da COMJOVEM sobre Design Thinking aborda inovação e criatividade

A COMJOVEM realizou o Almoço & Ideias sobre Design Thinking com Marcos Breder, professor da FDC e UEMG, e autor do livro Geração IA, na última quinta-feira (23), em Belo Horizonte. 

Breder mostrou como a metodologia pode ser uma poderosa aliada para quem busca transformar desafios complexos e encontrar soluções inovadoras no dia a dia corporativo, conectando pessoas e ideias. 

Participação das mulheres no setor de transportes em Minas Gerais está abaixo da média nacional

Participação das mulheres no setor de transportes em Minas Gerais está abaixo da média nacional

Segundo dados do levantamento feito pela CNT, a participação feminina no setor em todo o Brasil foi de 18,89% em 2024

O setor de transportes registrou 297.872 vínculos empregatícios ativos em Minas Gerais no ano passado. Dentre eles, 82,6% eram de homens e 17,4%, de mulheres no Estado. Conforme os dados do levantamento feito pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), a participação feminina em Minas está abaixo da média nacional (18,89%).

A pesquisa, feita com base na Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego, demonstra que o Estado encerrou 2024 com 51.880 mulheres e 297.872 homens atuando no setor de transportes. Já no Brasil, dos 2.821.899 vínculos empregatícios, 2.288.893 eram de homens e 533.006, de mulheres.

A coordenadora do Núcleo de Belo Horizonte e Região da Comissão de Jovens Empresários e Executivos do Transporte Rodoviário de Cargas (Comjovem), Ana Paula de Souza, relata que a participação das mulheres vem evoluindo nos últimos anos. Ela lembra que o cenário, há 20 anos, era diferente do atual, com o transporte sendo considerado como uma atividade exclusivamente masculina.

Além disso, as condições eram menos propícias para a atuação feminina no setor, exigindo muita força física para realizar algumas ações do dia a dia na estrada. Para a dirigente, existiam muitas barreiras técnicas, enquanto, hoje em dia, a dificuldade está relacionada a questões culturais. “Hoje, nós temos direção hidráulica e câmbio automático nos veículos, entre outras tecnologias, e muita infraestrutura de apoio”, diz.

Ela destaca que a diferença de Minas Gerais para as demais regiões não é muito grande. O Estado pode até não ser o grande destaque positivo quanto à equidade de gênero no setor, mas também não está entre os casos mais preocupantes do país. “Existem políticas que estão sendo trabalhadas para mudar essa realidade, e eu acredito que Minas Gerais, em breve, estará dentro da média nacional”, pontua.

O estudo da CNT ainda mostra que 17,47% das mulheres possuem de seis a 11,9 meses de trabalho; logo em seguida aparece o grupo de 12 a 23,9 meses, com 17,13% do total em Minas. No caso dos homens, a maioria (16,17%) já possui 120 meses ou mais, seguido daqueles com 12 a 23,9 meses de emprego (15,51%).

Além disso, das 51.880 mulheres que atuam no setor no Estado, 28,81% possuem entre 30 e 39 anos de idade; outras 22,68% estão na faixa etária entre 40 e 49 anos. Por outro lado, a maioria (27,43%) dos homens no setor tem de 50 a 64 anos, seguido do grupo com 30 a 39 anos, com 24,53% do total.

Ações para ampliar a participação das mulheres no setor de transportes

Ana Paula de Souza avalia que muitos estigmas estão sendo superados, principalmente com a adoção de políticas ESG nas empresas do setor de transportes. Ela afirma que esses esforços estão resultando na atração de mais mulheres para essa atividade ainda dominada pelos homens. Em alguns casos, as empresas têm ampliado de cinco para 80 mulheres em seu quadro de funcionários, em um período de três anos.

“Nós temos visto várias empresas adotando essas políticas ESG e essas mudanças na cultura. Isso tem se transformado em vagas ocupadas por mulheres”, afirma.

O levantamento realizado pela CNT demonstra que o grupo com Ensino Médio completo é superior aos demais, tanto entre as mulheres quanto entre os homens. Dentre as mulheres mineiras que trabalham no setor de transportes, 60,55% possuem esse grau de escolaridade, contra 60,09% entre os homens. No Brasil, o cenário é de 63,85% dos homens com Ensino Médio completo, contra 60,98% das mulheres.

Além de coordenar o Núcleo da Comjovem em Belo Horizonte e Região, Ana Paula de Souza também é gestora de operações da AD Souza Transportes e Logística. Segundo a dirigente, a maioria das mulheres atua na área administrativa das empresas de transporte, com menos participação na área operacional e nos cargos de liderança. “As mulheres ocupam apenas 3% ou 4% dos cargos de liderança. Essa participação é muito menor que os 17,4% observados em termos gerais”, acrescenta.

Ela ressalta que o tema da equidade no setor tem como objetivo proporcionar oportunidades iguais para homens e mulheres, respeitando as diferenças e reconhecendo as dificuldades que ainda existem. Para a especialista, temas como o fim do tabu envolvendo a licença-maternidade e a melhoria na infraestrutura são fundamentais para garantir condições iguais para ambos.

“Nós ainda temos muitas dificuldades em relação à infraestrutura no Brasil, com relação ao ponto de parada de motoristas, por exemplo. Muitas mulheres chegam em determinados embarcadores que não possuem banheiro feminino ou cujo banheiro está inadequado para uso”, relata.

Ana Paula de Souza ressalta que a participação das mulheres vem crescendo, mas ainda necessita de muitas adaptações e de políticas ESG para mudar o ambiente e torná-lo propício para que as mulheres possam assumir ainda mais cargos de lideranças ou na área operacional das empresas.

A expectativa, segundo a dirigente, é que os próximos anos sejam de mudanças, com mais participação de mulheres também nas comissões e demais entidades do setor de transportes. “Nós precisamos de mais representatividade das mulheres”, completa.

Tendências Atuais e Futuras no Setor de Transporte de Cargas

O setor de transporte de cargas está em constante evolução, impulsionado por inovações tecnológicas, mudanças nas demandas do mercado e a crescente preocupação com a sustentabilidade. Analisar as tendências atuais e futuras é essencial para entender como as empresas podem se adaptar e se preparar para enfrentar os desafios e aproveitar ao máximo as oportunidades.

Tendências Atuais

  1. Digitalização e Automação: A digitalização está transformando o setor de transporte de cargas, com o uso de sistemas de gerenciamento de transporte (TMS), rastreamento em tempo real, roteirizadores inteligentes e plataformas digitais para gerenciamento de frotas. A automação de processos, como a utilização esteiras com leitura de RFID (Radio Frequency Identification), QR Codes (Código QR), Cube Tapes e códigos de barras, já uma realidade e vem conquistando cada vez mais seu espaço. Embora veículos autônomos e drones ainda sejam uma novidade no Brasil, essa tecnologia já está em expansão em outros países, prometendo maior eficiência e redução de custos operacionais.
  2. Sustentabilidade: A preocupação com a sustentabilidade cresce a cada ano, levando empresas a adotar práticas que reduzem a pegada de carbono, como o uso de combustíveis alternativos (biocombustíveis e eletricidade) e a otimização de rotas. No entanto, a sustentabilidade vai além das práticas ambientais. Para ser realmente eficaz, ela precisa garantir também a viabilidade econômica da empresa, equilibrando inovação e rentabilidade. Adotar soluções sustentáveis sem planejamento financeiro pode comprometer a longevidade do negócio.
  3. E-commerce e Logística Last Mile: Com o crescimento do comércio eletrônico, a demanda por soluções de logística last mile (última milha) está em alta. Empresas estão investindo em tecnologias que garantam entregas rápidas e eficientes, com rastreabilidade em tempo real das cargas, atendendo às expectativas dos consumidores por conveniência e agilidade.

Tendências Futuras

  1. Internet das Coisas (IoT) e Big Data: O uso de IoT e Big Data está revolucionando o setor, permitindo monitoramento e análise de dados em tempo real. Sensores e dispositivos conectados fornecem informações valiosas sobre a localização, condição e desempenho das cargas, temperatura e umidade, consumo de combustível, desgaste de pneus, condições dos motoristas, ajudando as empresas a tomar decisões baseadas em dados confiáveis em curto espaço de tempo.
  2. Integração de Blockchain A tecnologia blockchain está ganhando espaço na logística, proporcionando transparência e segurança nas transações. A rastreabilidade e a imutabilidade dos registros blockchain oferecem uma solução confiável para a gestão de cadeias de suprimentos complexas e na logística como um todo.
  3. Inteligência Artificial e Machine Learning A aplicação de inteligência artificial (IA) e machine learning (ML) no transporte de cargas está abrindo novas possibilidades para otimização de rotas, previsão de demanda e manutenção preditiva. Essas tecnologias permitem que as empresas melhorem a eficiência operacional e reduzam custos.
  4. Logística Colaborativa A colaboração entre empresas do setor está se tornando uma prática comum. Parcerias estratégicas permitem o compartilhamento de recursos e infraestruturas, resultando em economias de escala e maior eficiência. No entanto, para que funcione de maneira sustentável, é essencial formalizar os acordos por meio de propostas, contratos e registros claros, garantindo transparência, benefícios mútuos e sustentáveis.

Conclusão

O setor de transporte de cargas está em plena transformação, impulsionado por inovações tecnológicas e novas expectativas de mercado.  Empresas que se adaptam a essas mudanças ganham eficiência, reduzem custos, fortalecem sua reputação, agregam valor à sua marca e se destacam no cenário competitivo.

A capacidade de inovar, adaptar, colaborar e investir em soluções sustentáveis será determinante para enfrentar os desafios do futuro e aproveitar ao máximo as oportunidades que virão.

Já passamos por muitas mudanças, nos adaptamos e tiramos o melhor proveito, mas ainda temos uma longa e rica estrada a percorrer. A jornada está só começando.

Andre Parreiras Coelho, membro da Comjovem BH e Região

Padronização e Rastreabilidade no Transporte de Combustíveis: A Aplicação de Blockchain e Contratos Inteligentes

O transporte de combustíveis é uma atividade essencial para a economia brasileira, movimentando grandes volumes de produto diariamente através de uma complexa cadeia de suprimentos que envolve distribuidoras, transportadoras, e postos de revenda. No entanto, esse processo enfrenta desafios críticos relacionados à qualidade e à integridade dos combustíveis transportados. A adulteração de combustíveis, que pode ocorrer em diversos pontos dessa cadeia, representa um risco significativo tanto para os consumidores quanto para as empresas envolvidas, resultando em danos aos veículos, prejuízos econômicos, e perda de confiança no mercado.

Este artigo explora a aplicação de blockchain e contratos inteligentes no transporte de combustíveis, focando nos desafios de qualidade e rastreabilidade. Além de identificar as vulnerabilidades atuais, ele propõe uma solução inovadora que utiliza essas tecnologias para proteger todos os envolvidos na cadeia de suprimentos e garantir a integridade do produto.

Em 2023, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) registrou 4.928 autos de infração relacionados a irregularidades no mercado de combustíveis, dos quais 923 foram por não conformidade na qualidade. Esses números evidenciam os significativos problemas enfrentados pelos consumidores e autoridades reguladoras na luta contra a adulteração de combustíveis, que continua a minar a confiança do consumidor e a integridade do mercado.

Além dos postos de revenda, transportadoras e empresas com tanques internos, que dependem da qualidade do combustível para suas operações, também enfrentam dificuldades na garantia da integridade dos combustíveis recebidos. Embora algumas distribuidoras utilizem marcadores para identificar e controlar a qualidade do produto, essa prática isolada não é suficiente para assegurar a rastreabilidade completa e a integridade do combustível.

Ao contrário de produtos sólidos, que mantêm formas e volumes constantes, o combustível sofre alterações volumétricas conforme mudanças de temperatura, complicando o processo de recebimento. Por essa razão, é necessário realizar análises de temperatura e densidade no momento da entrega para garantir que o volume entregue esteja dentro dos padrões esperados. Contudo, essas verificações, por si só, demonstram-se frágeis e insuficientes para assegurar a total integridade do combustível recebido.

Os membros dos núcleos COMJOVEM de Belo Horizonte e Região e do Centro Oeste Mineiro tiveram a oportunidade de realizar benchmarking durante um workshop promovido pela Transportadora Andrade, empresa associada ao SETCEMG e dirigida por um membro da COMJOVEM. O workshop abordou as especificidades do processo de recebimento de combustíveis e os procedimentos para medir densidade e temperatura. Durante o evento, ficou claro que, apesar dessas práticas serem rigorosamente seguidas, o processo de recebimento

ainda apresenta fragilidades, pois não é possível garantir totalmente a integridade do produto apenas com essas verificações. Esse fato sublinha a importância de adotar tecnologias complementares, como o blockchain, para fortalecer o processo e garantir uma rastreabilidade completa e inalterável desde a origem até o destino final.

O blockchain tem o potencial de transformar o setor de transporte de combustíveis, criando um registro imutável de todas as transações, desde a origem até o consumidor final. Com contratos inteligentes, cada etapa do processo de distribuição pode ser automatizada e verificada, reduzindo a possibilidade de adulteração por ação humana ou erros operacionais. Esses contratos garantem que apenas combustível verificado e testado seja entregue, com cada etapa do processo registrada e confirmada por todas as partes envolvidas.

A combinação de marcadores de combustíveis com blockchain e contratos inteligentes pode oferecer um nível de segurança muito maior, assegurando que todas as etapas sejam monitoradas e registradas de maneira inviolável.

Em uma iniciativa recente, a Petrobras, uma das maiores empresas de energia do mundo, implementou blockchain para rastrear e verificar a procedência dos combustíveis em tempo real. Essa aplicação não apenas melhorou a transparência do processo, mas também proporcionou uma economia significativa ao reduzir a necessidade de intermediários e simplificar os procedimentos de auditoria. Além disso, essa tecnologia contribuiu para a sustentabilidade das operações, ajudando a empresa a monitorar e diminuir o impacto ambiental de suas atividades.

Para enfrentar esses desafios, surge a oportunidade de desenvolver um sistema padronizado de rastreamento aplicável a todas as distribuidoras de combustíveis. A solução pode estar dentro da própria NTC & Logística, por meio da colaboração entre a Câmara Técnica de Produtos Perigosos e o Instituto COMJOVEM. Juntos, eles podem liderar a padronização do processo de recebimento de combustíveis no setor de transporte. Combinando a expertise técnica da Câmara na elaboração de normas com a capacidade do Instituto COMJOVEM em desenvolver soluções mercadológicas e inovadoras, essa parceria pode implementar um sistema utilizando blockchain e contratos inteligentes. Isso garantiria a integridade e rastreabilidade dos combustíveis, beneficiando toda a cadeia logística e fortalecendo a segurança e a eficiência no setor.

A implementação de blockchain e contratos inteligentes no transporte de combustíveis tem o potencial de revolucionar o setor, aumentando a confiança tanto dos consumidores quanto das empresas. Além de elevar significativamente a segurança, essa tecnologia proporciona vantagens econômicas ao reduzir custos relacionados a manutenções veiculares e litígios decorrentes de danos causados por combustíveis adulterados. A padronização dessas tecnologias oferece uma solução robusta para os desafios de rastreabilidade, integridade e qualidade, sublinhando a importância de uma abordagem tecnológica para proteger os consumidores e assegurar a sustentabilidade do setor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MEDIUM.   Smart   Contract   Use   Cases    in    Transport   &    Logistics.    Disponível    em: https://medium.com/upstate-interactive/smart-contract-use-cases-in-transport-logistics- 7e3c7ef1be1b. Acesso em: 25 ago. 2024.

PETROBRAS.      Relatórios      Anuais      e      de      Sustentabilidade.      Disponível       em: https://www.investidorpetrobras.com.br/pt/relatorios-anuais. Acesso em: 25 ago. 2024.

RANGEL.              Blockchain               na               logística.               Disponível               em: https://www.rangel.com/pt/blog/blockchain-na-logistica/. Acesso em: 25 ago. 2024.

SCIENCE DIRECT. Blockchain in the transportation of fuels. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1366554522002459. Acesso em: 25 ago. 2024.

WILEY ONLINE LIBRARY. Blockchain and Smart Contracts in Transportation. Disponível em: https://ietresearch.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1049/blc2.12005. Acesso em: 25 ago. 2024.

Blockchain e Contratos Inteligentes : Solução Nova para um Problema Antigo

De um enredo de uma série da HBO como Westworld a uma distopia totalitária como a criada por George Orwell no livro 1984, muito se teoriza sobre a inserção de mais tecnologia no nosso cotidiano. Entretanto, pouco se especula sobre as oportunidades de ganhos que surgem com a introdução de soluções tecnológicas simples em nossa realidade. Uma dessas soluções é o Blockchain associado aos Contratos Inteligentes.

Apesar do nome pomposo, Blockchain é um conceito simples. Consiste em uma gravação digital de informação que é executada ou compartilhada com aqueles que se interessam. Suas características essenciais são: imutabilidade das informações gravadas; descentralização do processo de gravação e distribuição da informação; auditabilidade e capacidade de automatização. Em uma analogia leiga, o Blockchain é uma informação oficial.

É esta capacidade de tornar algo oficial no digital que concedeu ao Blockchain contornos revolucionários. Anteriormente, verificar a veracidade de informações no campo digital era quase impossível. No Blockchain, as auditorias são realizáveis, pois os dados são gravados em cadeia. Cada bloco de informação contém um hash, que é uma série de números e letras calculado a partir do bloco anterior. Desta forma, cada bloco depende de todos os blocos anteriores. Qualquer alteração no conteúdo de um bloco propaga uma reação sequencial. Assim, cada novo dado, para ser introduzido, necessita de consenso entre todos os agentes da operação, oferecendo confiabilidade e segurança na informação oferecida. Novamente em uma comparação menos abstrata, hashes são números de séries de um produto. Um hash individual seria um conjunto de 3 números dentro deste número de série, enquanto o Blockchain seria o diário oficial no qual consegue-se verificar a legenda para cada um destes códigos colocados no número final. O interessante desta tecnologia é que, diferentemente do seu irmão analógico, as informações estão disponíveis imediatamente a todas as partes interessadas.

Durante as reuniões de núcleo, os membros da COMJOVEM Belo Horizonte e Região discutiram a importância de acompanhar o ciclo de vida da carga, principalmente aquelas com alto nível de adulteração. Em 2007, por exemplo, o Ministério Público constatou que mais de 300 mil litros de leite contendo formol, água oxigenada e soda cáustica foram colocados à venda. De um total de 275 denunciados pela fraude do leite, 25 foram condenados e, em sua maioria, transportadores. Em um cenário como este, um transportador terceirizado estaria exposto a riscos legais e comerciais, por involuntariamente estar envolvido em uma cadeia de

suprimentos criminosa.

Com a tecnologia do Blockchain, situações similares seriam evitadas. Os recibos e certificados em papel podem ser facilmente modificados por falsificadores, ao contrário dos registros criptográficos. Outro ponto é a disponibilidade imediata para fins de auditoria a todos integrantes da relação comercial, sejam eles intermediários ou terceiros interessados como órgãos regulatórios. No ambiente do transporte de cargas, essa rastreabilidade como idealizada pelos membros em reunião de núcleo, eleva significativamente o valor percebido pelo cliente produtor de bens de elevado valor, tais como produtores farmacêuticos, com investimento relativamente baixo. Abre-se aqui, a necessidade de uma breve explicação de outro conceito intrínseco ao Blockchain: os Contratos Inteligentes.

Os Contratos Inteligentes são automatizações executadas quando condições predeterminadas são satisfeitas. Estes, por definição, não são necessariamente baseados em Blockchain. A ideia original era digitalizar e automatizar contratos legais, porém com a associação ao Blockchain, tornou-se possível automatizar o processo de validação de condições de forma segura e objetiva. O maior benefício desta abordagem é eliminar a dependência de intermediários para a verificação de trocas financeiras assim como de fluxos de auditoria.

No ambiente logístico, prazos de entrega menores oferecem vantagem competitiva. Diferentes territórios têm políticas regulatórias variadas. A cultura e a sociedade de uma região têm impacto em como as operações logísticas são gerenciadas e executadas. Esta subjetividade se mostra ainda mais presente nas operações internacionais. Cotidiano são os casos de cargas confiscadas por órgãos de fiscalização por incompatibilidade de informações. A incerteza decorrente destes fatores subjetivos gera um risco difícil de avaliar e mitigar para os entes logísticos.

Esses desafios ampliaram-se para empresas modernas que possuem consumidores e fornecedores espalhados pelo mundo. Entretanto, contratos inteligentes associados ao Blockchain, podem reduzir os atrasos envolvidos numa cadeia de abastecimento complexa, através do armazenamento e gerenciamento de informações de forma unificada e simplificada.

Resumidamente, uma realidade mais tecnocêntrica não envolve teorias mirabolantes nas quais androides dominam o mundo. A principal diferença entre bancos de dados convencionais e gerenciamento de dados baseada em Blockchain é que, no último, os dados são imutáveis, distribuídos e descentralizados por natureza. O Blockchain é uma solução nova para um problema antigo: comunicação eficaz e segura. Cabe a nós alterar a perspectiva para vivenciar a tecnologia como ferramenta de enriquecimento das relações humanas e comerciais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALHARBY, Maher; VAN MOORSEL, Aad. Blockchain-based smart contracts: A systematic mapping study. arXiv preprint arXiv:1710.06372, 2017. Disponível em https://doi.org/10.48550/arXiv.1710.06372. Acesso em: 17 jun. 2024.

ALQARNI, Mohammed Ali et al. Use of blockchain-based smart contracts in logistics and supply chains. Electronics, v. 12, n. 6, p. 1340, 2023. Disponível em:

https://doi.org/10.3390/electronics12061340. Acesso em: 17 jun. 2024.

Dez anos após a 1ª Operação Leite Compen$ado no RS, 275 suspeitos foram denunciados e R$ 12 milhões foram revertidos em bens para fiscalização. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/seguranca/noticia/2023/05/uma-decada-apos-a-primeira- operacao-leite-compensado-275-suspeitos-foram-denunciados-e-r-12-milhoes-foram-revertidos- em-bens-para-fiscalizacao-clh6gbr20004l016xohqrirc7.html. Acesso em: 27 jun. 2024.

GOMES, Delber. Contratos ex machina: breves notas sobre a introdução da tecnologia (Blockchain e Smart Contracts) (1 de maio de 2018). REVISTA ELECTRÓNICA DE DIREITO – OUTUBRO 2018 – N.º 3 – ISSN 2182-9845. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=3352031. Acesso em: 17 jun. 2024.

JAN HENDRIK WITTE, The Blockchain: A Gentle Introduction (2016). Disponível em https://arxiv.org/pdf/1612.06244. Acesso em: 17 jun. 2024.

ORWELL, George. Box George Orwell: 1984, A Revolução dos Bichos, O Leão e o Unicórnio. Editora Bibliomundi, 2023.

WESTWORLD [Seriado]. Criação: Lisa Joy; Jonathan Nolan. Produção: Warner Bros. Television; Bad Robot; Jerry Weintraub Productions; Kilter Films. Estados Unidos: Home Box Office (HBO), 2016. 4 temporadas, son., color.

Blockchain e Contratos Inteligentes: Independente, Criptográfico e Descentralizado.

Introdução

Blockchain e criptomoeda podem ser facilmente compreendidos se dividirmos em duas partes: Bloco e o fluxo de transações. No presente artigo aprenderemos, como um bloco é criado na rede Bitcoin e quais são os componentes de um Bloco.

“O Bitcoin é uma ideia revolucionária, mas a verdadeira inovação está na tecnologia que o impulsiona e que permite criar livros de contabilidade descentralizados e seguros para qualquer finalidade, não só para criptomoedas”. (HOLLINS, 2018, pg. 35)

O que é a blockchain

A blockchain surge de uma forma irônica em 1991 com Stuart Haber e Scott Stornenta, então dois funcionários da XEROX. Dá para imaginar? Trabalhando para uma empresa de fotocópia, eles criaram a tecnologia que não permite copiar nada! A motivação veio após um grande escândalo de fraude, onde, com uma tinta especial foi alterado um paper, um artigo de biologia. Imaginaram blocos de informação atrelados uns aos outros de forma imutável. Em 1992 eles incluíram criptografia nesses registros e até 2008 essa invenção não tinha nome e nenhum caso de uso real.

A tecnologia só ganhou nome após, o lançamento do famoso white paper de Satoshi Nakamoto: “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”, onde o uso das palavras block, referindo-se a blocos de informação e chain, para referir a dados em uma cadeia usando funções de hash, Aparecem muitas vezes, tornando natural aos leitores unir as duas palavras e chamar esse sistema de Blockchain.

Funcionamento

Imagine uma blusa ou um tecido, onde, você não consegue puxar ou mover as linhas sem afetar os blocos de linhas seguintes, o blockchain é assim, como uma grande costura digital.

Na tradução literal blockchain é uma cadeia de blocos, ou seja, são blocos de informação atrelados uns aos outros que depois de costurados ou registrados em blockchain, ficam gravados de forma imutável. As informações são inseridas na rede através dos full nodes na famosa mineração. Esses mineradores executam cálculos matemáticos como um quebra cabeça. Quando é encontrada a resposta correta a rede valida a resposta e registra um novo bloco na rede.

Esse mecanismo é chamado de proof of work ou prova de trabalho, como em um grande jogo, onde os full nodes ou mineradores competem entre si, para ver quem vai resolver o cálculo criptográfico primeiro, criar o novo e próximo bloco da rede e receber a recompensa.

De uma forma prática

Cada bloco contém as informações das transações realizadas na rede. Por exemplo, o endereço “Andrade” enviou 10 bitcoins para o endereço “COMJOVEM”, contendo a mensagem “Ativo sob contrato 1x2n9”. Assim como ocorre com o PIX, é possível registrar uma mensagem, permitindo atrelar dados à sua transação na rede Bitcoin.

Para registro das transações no “tempo e espaço”, os blocos usam a tecnologia de Time Stamp, uma espécie de carimbo, com data e hora. Esses dados formam o conteúdo de cada bloco, esses blocos são misturados de forma aleatória e transformados em um hash.

O hash resume e identifica tudo que o bloco contém, depois de todas as informações do bloco serem misturadas ou criptografadas é criado o “HASH01” do “BLOCO01”, ele é inserido junto ao conteúdo do próximo bloco. No “BLOCO02” tudo se repete, tudo será misturado/criptografado e vai criar justamente o “HASH02” do “BLOCO02”, replicando novamente o processo e assim continua essa “costura digital” da Blockchain.

Segurança, gestão e controle

Todos os computadores que participam, eles processam e contribuem com a rede possuindo e mantendo cópias de todos os blocos de informação já processadas na rede, esses “validadores” são os full nodes e também são uma espécie de “mineradores”, a diferença entre eles é apenas o poder computacional. Com maior poder computacional mais rápido você chega à resposta do cálculo e registra o próximo bloco na rede, com menos poder diminui as chances de encontrar o próximo bloco, mas não impede em nada o acesso em tempo real a rede e a conferência da veracidade das informações;

Como todos esses nodes possuem uma cópia fidedigna da rede, contendo todas as transações já processadas, dificulta em um nível extremo qualquer alteração no seu contrato, uma vez que havendo essa alteração por parte de um dos computadores mesmo que ele possua um grande poder computacional. Para exemplificar podemos falar de um computador quântico.

Mesmo que este megacomputador quântico consiga reverter a transação registrada no bloco e alterar seu contrato isso vai mudar o hash daquele bloco e esse novo hash não vai respeitar a ordem de toda cadeia de hash já consolidada, e por não ser uma cópia exata de toda Blockchain que todos os nodes tem salvo em seus computadores, a rede vai recusar, gerando um fork ou bifurcação na rede.

É por isso que a Blockchain é extremamente resistente e inteligente. Não dependendo de um único servidor ou terceiro confiável, os dados são descentralizados com milhares de cópias. Mesmo se houver um inverno nuclear e um computador que possui a cópia da rede existir, a rede e seu contrato sobrevivem.

Contratos inteligentes

Ao automatizar processos, garantir a segurança das transações e proporcionar maior visibilidade em toda a cadeia logística, os contratos inteligentes estão redefinindo a maneira como as empresas gerenciam suas operações.

Contratos inteligentes são programas autoexecutáveis armazenados em uma blockchain, que executam automaticamente as cláusulas de um acordo quando determinadas condições são atendidas. Essa tecnologia elimina a necessidade de intermediários, reduzindo custos e riscos de fraudes.

Componentes base dos contratos inteligentes:

  • Condições: Regras predefinidas que, ao serem cumpridas, acionam a execução do contrato.
  • Ações: Tarefas automatizadas, como liberação de pagamentos, transferência de propriedade ou acionamento de sensores.
  • Blockchain: Base de dados distribuída e imutável que registra todas as transações, garantindo a transparência e a segurança.
  • Linguagens de programação: Solidity, Vyper e Rust são algumas das linguagens mais utilizadas para criar contratos inteligentes.

Os contratos inteligentes encontram diversas aplicações no setor de transporte, incluindo:

  • Contratos de frete: Automatização de pagamentos, monitoramento de condições de transporte (temperatura, umidade) e geração de provas em caso de disputas.
  • Seguros: Pagamento automático de indenizações em caso de sinistros, com base em dados de sensores e localização.
  • Pagamentos: Liberação automática de pagamentos a transportadores, com base em métricas de desempenho e cumprimento de prazos.
  • Documentação: Digitalização e automatização de processos de emissão e validação de documentos, como conhecimento de embarque e certificados de origem.

Benefícios dos Contratos Inteligentes

  • Transparência: Todas as transações são registradas de forma imutável na blockchain, proporcionando maior visibilidade e confiança.
  • Eficiência: Automatização de processos, redução de custos operacionais e eliminação de intermediários.
  • Segurança: Proteção contra fraudes e manipulação de dados, graças à natureza descentralizada da blockchain.

Desafios e Considerações

  • Escalabilidade: A capacidade da blockchain de processar um grande volume de transações é um desafio a ser superado.
  • Regulamentação: A falta de um marco regulatório claro pode criar incertezas quanto à validade jurídica dos contratos inteligentes.
  • Interoperabilidade: A necessidade de criar padrões para permitir a comunicação entre diferentes blockchains.

Os contratos inteligentes representam uma revolução para o setor de transporte, oferecendo um potencial enorme para otimizar processos, reduzir custos e aumentar a confiança. Com a contínua evolução da tecnologia blockchain e a crescente adoção de soluções baseadas em contratos inteligentes, podemos esperar um futuro em que as cadeias de suprimentos sejam mais transparentes, eficientes e resilientes.

Considerações finais

Blockchain é um protocolo como a internet, onde todos podem auditar a rede e verificar a veracidade das informações e registros.

Tudo é feito em tempo real, de forma sincronizada e transparente, o sistema garante que nenhum dado seja perdido e tudo isso aumenta a segurança e a confiança na rede e nos registros nela contido.

Blockchain é como usar um cartório mundial, com infinitas unidades desde único cartório, onde cada cartório tem uma cópia fidedigna de tudo que já foi escrito/registrado na rede, com milhares e milhares de Notários ou Tabeliões com uma cópia de toda rede, certificando, e validando 24 horas e 7 dias por semana as informações.

Os contratos inteligentes representam uma revolução tecnológica com o potencial de transformar o setor de transporte e demais setores da economia. Ao oferecer um sistema de registro seguro, transparente e automatizado, abrindo novas possibilidades para a criação de um mundo mais conectado e eficiente.